O test drive de um Série 7 é sempre uma experiência marcante para quem valoriza a tecnologia e o novo modelo, cuja apresentação mundial decorreu em Portugal, não foge a esta regra.
A experiência começa mesmo antes de entrarmos no carro. A chave volumosa, de série em Portugal, é mais parecida com um smartphone do que com uma chave convencional. Nem lhe falta o ecrã tátil e Wi-Fi. No fundo, algumas das funcionalidades já disponíveis na My BMW Remote App migraram para a chave: ligar/desligar luzes, abertura/fecho de vidros, verificar a autonomia disponível, controlar a climatização e ativar a buzina. O Wi-Fi direto permite um alcance de algumas dezenas de metros, o que significa que em muitos casos o condutor não precisa de voltar atrás para garantir que o carro está em segurança.
Mas a funcionalidades mais interessante disponibilizada por esta chave só chega aos Série 7 produzidos a partir de novembro: o estacionamento remoto, ou seja, sem ninguém a bordo. Ainda não é desta que vai poder deixar o seu carro à porta do restaurante e deixá-lo procurar um lugar num parque público, mas esta funcionalidade vai ser útil, por exemplo para estacionar ou retirar o carro de lugares apertados, onde não há espaço para abrir as portas. Na prática, cabe ao condutor “apontar” o carro para o lugar de estacionamento, já que o veículo limita-se a andar para a frente e para trás, fazendo apenas pequenas correções de direção. No sentido contrário, basta ativar a chave porque o carro é capaz de arrancar sozinho. As câmaras com cobertura de 360 graus e o radar permitem evitar choques nestas e noutras manobras. Aliás, há uma novidade no processamento de imagens, que permite ao condutor ver o carro num modo de realidade aumentada. Até parece que estamos a observar a manobra a partir de câmaras coladas fora do carro. Realmente muito bom!
Claro que uma chave que parece um smartphone tem também os problemas de autonomia dos smartphones. Felizmente, na caixa de arrumação ao lado do condutor existe um espaço para guardar a chave que tem carregamento por indução (wireless). Este espaço pode ser também usado para carregar um smartphone equipado com esta tecnologia. E, se já está a pensar que pode ter problemas com a chave se deixar de usar o carro durante alguns dias, não se preocupe: é sempre possível carregar a chave através de um vulgar cabo USB. Sim, leu bem, já há carros em que a chave pode ser carregada por USB.
Controlo por gestos
No interior continuamos a ter o sistema de controlo iDrive, um stick rotativo que permite explorar os muitos menus em segurança. Como também já acontecia em outros modelos da marca, este controlador inclui um painel tátil onde podemos, por exemplo, usar o dedo indicador para desenhar as letras do endereço a introduzir no sistema de navegação. Não é preciso muito prática para conseguirmos usar o iDrive sem desviar os olhos da estrada. E também por isso não vemos grande vantagem numa das novas características: o ecrã central passou a ser tátil. Provavelmente, trata-se mais de uma resposta da BMW às tendências de mercado, já que não é prático nem seguro – até porque o ecrã está a uma distância razoável do condutor – usar os dedos para explorar diretamente os menus que surgem no generoso ecrã central. Pelo menos para o condutor, já que este sistema de controlo acaba por ser funcional para o passageiro do lado – muito bom para deixar o ecrã cheio de marcas de dedos!
Mas a grande novidade de controlo são os gestos. Para aumentar ou diminuir o volume do sistema de som com assinatura, só temos de fazer círculos com o indicador algures no ar; movimentos da mão para esquerda e direita permitem, respetivamente, cancelar ou atender uma chamada; com a ponta dos dedos e podemos apontar dois dedos para ativar diretamente uma função à nossa escolha. De origem este gesto estava programado para mudar a estação de rádio, mas podemos, por exemplo, alterar para iniciar uma chamada para determinado contacto. É até possível “agarrar” as câmaras em redor do carro para mover a imagem criada pelo sistema de realidade aumentada.
Tablet incluído
O carro vem com ligação de dados incluída para acesso à Internet de banda móvel. Ligação que é utilizada pelos sistemas de bordo já conhecidos de outros modelos da marca (por exemplo, serviço Concierge, ligação direta à assistência técnica, SOS e trânsito em tempo real), e que pode ser partilhada com até oito outros dispositivos.
Um destes aparelhos já é fornecido: um tablet de sete polegadas da Samsung instalado entre os dois bancos traseiros. Este tablet tem como app principal o software de controlo dos sistemas a bordo, como luzes ambiente, ar condicionado, multimédia e acertos do banco – incluindo massagens, como não poderia deixar de ser num Série 7. Mas também pode ser facilmente removido e acompanhar o utilizador, funcionando com um vulgar tablet Android.
Tecnologias mecânicas
A evolução tecnológica não está presenta apenas nos sistemas de bordo. Ou não fosse a BMW uma marca conhecida pelo prazer da condução. Uma das grandes novidades está nos próprios processos de fabrico. Por exemplo, partes dos novos Série 7 são construídas numa mistura de fibra de carbono com plástico. O resultado é uma diminuição de peso, que também foi melhor distribuído – a BMW menciona uma distribuição perfeita do peso entre os dois eixos. Isto apesar de os novos modelos serem um pouco maiores que os anteriores.
Há também otimizações nos motores. A versão que provavelmente terá maior sucesso em Portugal, o 730d, tem uma potência de 265 cavalos e um consumo anunciado de apenas 4,5 litros aos 100 km. Um valor claramente otimista, mas verificámos que não é difícil ficar na casa dos 7/8 litros em condução normal, com alguma vivacidade.
Veredicto
Apesar das grandes dimensões e do extremo conforto – a suspensão é até capaz de ficar mais macia quando a câmara frontal deteta uma lomba –, o novo Série 7, mesmo na versão menos potente, revelou ser ágil e capaz de responder muito rapidamente. Na verdade, ao volante, é fácil esquecermos que estamos dentro de um carro com cerca de 5 metros de comprimento (5,237 m na versão longa).
No que à tecnologia diz respeito, a chave inteligente e o reconhecimento de gestos vão criar uma tendência para outros modelos e outras marcas porque trazem mais-valias evidentes em termos de funcionalidade e demonstram ser de utilização simples e intuitiva. Uma vez mais a BMW conseguiu trazer muitas funcionalidades para bordo sem ter de complicar a vida ao utilizador nem diminuir a segurança a bordo – muito pelo contrário, já que os sistemas de apoio à condução foram reforçados. Só criticamos alguns pormenores: a interface gráfica mistura dois designs ligeiramente diferentes e é fácil ativar acidentalmente os comandos táteis para controlo da climatização.
No global, o novo Série 7 apela a quem valoriza o conforto e a tecnologia sem que isso ponha em causa o prazer de condução. Um automóvel que, certamente, vai ser uma referência nos segmentos mais elevados. Finalmente, esperemos que a BMW venha a desenvolver uma versão híbrida, de preferência do tipo plug-in, para aumentar ainda mais a eficiência.