As histórias de realismo suburbano de substrato juvenil funcionam bem em trio. Mathieu Kassovitz mostrou-nos isso em O Ódio, filme que ainda hoje se mantém como referência para o cinema que aborda a vida dos bairros à margem das grandes cidades. Talvez seja também por isso que Alain Parroni, na sua primeira longa, opte por uma tríade que, ao mesmo tempo que se individualiza, funciona bem como personagem coletiva. Só que Roma não é Paris, Itália não é França, os (sub)mundos tocam-se mas não se imitam, as referências e os habitats são outros.
Seria impossível não inscrever Um Domingo Interminável na descendência do neorrealismo italiano de Pasolini, De Sica, Visconti, Rossellini, entre outros. Só que o passar do tempo provoca diferenças avassaladoras. A gentrificação tomou conta do mundo, e o que se passava nos bairros pobres de Roma agora desviou-se para os arrabaldes da cidade. Além disso, Parroni mostra-nos a falência da dinâmica comunitária dos bairros, que se tornava protetora mesmo em contexto de miséria. Da grande família italiana sobra apenas a ténue figura matriarcal de uma avó.
Em termos estéticos, Um Domingo Interminável também se afasta de uma certa crueza ligada ao (neo)realismo. O filme é rico no enquadramento de planos, no tratamento de luz, na direção de fotografia. Além disso, o realizador acrescenta uma dimensão de triângulo amoroso ao enredo, alargando assim o âmbito da sua dinâmica e da sua existência, que leva o filme para lá de um olhar sociopolítico sobre a Itália contemporânea. Há uma dimensão aventurosa, de celebração da liberdade, neste retrato de uma certa adolescência, que passa por grandes paixões, mas também pelo preenchimento do tédio, por reflexões filosóficas, buscas do sentido da vida. A política social também está lá, claro, por exemplo, no olhar sobre o centro de Roma que espanta turistas.
No final, tudo redunda em desespero e qualquer imagem utópica de ventura das margens se desfaz. Os marginais são marginalizados, o mundo não quer saber deles, ficaram esquecidos nas franjas, seres invisíveis, que o cinema de Alain Parroni faz questão de nos mostrar.
Produzido por Wim Wenders, este filme venceu o Prémio FIPRESCI e o Especial do Júri da secção Orizzonti no Festival de Veneza.
Um Domingo Interminável > De Alain Parroni, com Enrico Bassetti, Zackary Delmas, Federica Valentini, Lars Rudolph > 110 min