“A ajuda deve estar sempre onde se encontra o sofrimento”. A frase ecoa na sala e faz-nos pensar. No palco, quatro atores dão voz às dezenas de relatos de profissionais do Comité Internacional da Cruz Vermelha e dos Médicos Sem Fronteiras, que servem de ponto de partida para Na Medida do Impossível, peça de Tiago Rodrigues que, em Lisboa, encerra uma digressão internacional de dois anos (o espetáculo estreou em Genebra, em 2022).
Na tentativa de ilustrar “este mundo entre o possível e o impossível”, o texto do encenador e diretor do Festival de Avignon leva o público pela mão, mostrando-lhe a realidade de quem vive para ajudar em cenários de guerra, de quem já percebeu que não vai salvar o mundo, mas que continua a trocar o possível pelo impossível, talvez porque as ruínas da guerra “não são apenas as ruínas de uma cidade, mas as ruínas da História”.
O cenário é simples. Panos brancos que recordam montanhas, tendas, nuvens de tempestade. Não é preciso mais. O cenário de guerra é igual em qualquer lado. Como conta uma das personagens, soa a bombas e a gritos de mortos e de vivos, e cheira a especiarias e a cadáveres espalhados nos escombros de um souk.
Sem nomear nações ou conflitos, a peça centra-se em mostrar esta “nação”, que nasce sempre que um Homem está disposto a matar outro, e a forma como os trabalhadores humanitários lidam com ela.
O impossível é fazer com que quem fica perceba a dimensão daquilo que quem parte acaba por viver. O impossível é regressar igual e adaptar-se à vida no mundo possível, sem sentimentos de culpa; é gerir um campo de refugiados sem ter meios, é ter de escolher entre salvar a vida de uma criança em detrimento de outra.
O impossível é uma cidade arrasada, um hospital clandestino. É um sofrimento que causa dor a quem chega para ajudar. Uma dor que “é necessária”, para que nunca se relativize o horror.
O impossível é ainda esquecer que “um dia posso ser eu, pode ser a minha família” ou, como sublinha Tiago Rodrigues, recordando os 50 anos de 25 de Abril, “o impossível não é assim tão longínquo, em Portugal, não é assim tão longínquo, na Europa, e pode não estar assim tão distante”.
Na Medida do Impossível > Culturgest > R. Arco do Cego, 50, Lisboa > T. 21 790 5155 > 17-25 abr, vários horários > €20