Cenários de grande dimensão, insetos coloridos e uma narrativa apelativa para todas as idades é o que promete Ovo, 25º espetáculo do Cirque du Soleil, fundado por Guy Laliberté, que celebrou precisamente o seu 25º aniversário com esta criação em 2009. A estreia foi em Montreal, Canadá e, entretanto, já passou por mais de 30 cidades, em seis países diferentes, tendo cumprido 3 500 apresentações, em maio último, na Suécia. Ovo chega agora a Lisboa e pode ser visto em sessões à tarde e à noite, no Altice Arena.
Não tem nada a ver com a barata em que Gregor Samsa se viu transformado ao acordar na Metamorfose de Franz Kafka, nem com a Mosca de Kurt Neumann nos anos 50 ou o célebre remake dos anos 80 de David Cronenberg, nem mesmo com qualquer fábula de La Fontaine como A Cigarra e a Formiga. Mas Ovo tem muitos “grilos, aranhas, escaravelhos, todos muito coloridos” como adianta à VISÃO, Janie Mallet do Cirque du Soleil, e também “palhaços e acrobatas”.
Tudo misturado num grande espetáculo de circo contemporâneo que cruza diferentes artes, tendo como ponto de partida o gosto por “insetos e cores” da criadora brasileira Deborah Colker. “Com muita pesquisa, tentativa e erro, criámos todos os atos do espetáculo” adianta Mallet. “Houve uma grande investigação até surgir a ideia, o que é que poderíamos fazer com estes personagens, com os fatos, maquilhagem, design do palco, acrobacias…”.
A vida dos insetos, tal como ela é, foi muito inspiradora: “Cada inseto tem um movimento específico que nós criámos. Não é suposto imitarmos na perfeição o movimento de uma aranha, mas sim algo inspirado nesse movimento”. Os movimentos e sons dos insetos inspiraram muitos artistas ao longo da história e peripécias narrativas musicais e operáticas que andaram à sua volta. Basta pensar no Voo do Moscardo, de Rachmaninoff.
O compositor brasileiro Berna Ceppas, que criou a música original de Ovo, também partiu de uma atenta observação e reutilização de sons de vários insetos com temas tocados no teclado. Os samples de zumbidos e outras sonoridades acompanham o desenvolvimento da história, um insólito encontro amoroso de uma mosca azul com Madame Joaninha. “Há momentos engraçados, inspiradores, uma história de amizade, de amor, de inclusão, de mudança… Um espetáculo para toda a família” diz Janie Mallet.
Ovo é um verdadeiro circo de insetos em que não há palavras, mas zumbidos e bater de asas, “o que torna o espetáculo mais acessível para os mais novos”. “Temos uma narrativa de descoberta, mas, por outro lado, há imensas camadas que toda a gente consegue ver pela perspetiva dos personagens”, justifica Mallet. “O que atrai mais as pessoas em todos os espetáculos do Cirque du Soleil é que todos podem ter a sua própria experiência”.
O Cirque du Soleil integra artistas de várias nacionalidades. Ovo tem de resto um sotaque brasileiro na sua composição. Além de Deborah Colker e Berna Ceppas, fala também português pelo trampolim de Wellington Lima, um dos grilos do espetáculo, e fazer “grigri” em trampolim não é para todos: “Faço um dos números principais no final do espetáculo com um trampolim de parede, na disciplina do trampwall criada exclusivamente para o Cirque du Soleil”, adianta o artista à VISÃO.
Wellington Lima está no Cirque du Soleil há mais de 20 anos. No seu percurso começou pela capoeira, modalidade de que foi mesmo professor, prosseguiu na ginástica artística e finalmente passou ao trampolim acrobático. “Fiz uma audição no Cirque du Soleil, juntamente com 120 participantes. Só dez foram selecionados e eu estava lá”, recorda. E sabe bem o que significa estar numa companhia tão icónica: trabalhar no Cirque du Soleil “é uma coisa mágica e eu sei a importância que tem estarmos no palco e transformar a vida das pessoas com o que nós fazemos”.
Um espetáculo para ver e ouvir, sem repelentes ou inseticidas, deixando-nos envolver na teia de emoções da arte do novo circo.
Ovo, do Cirque du Soleil > Altice Arena > Parque das Nações, Lisboa > até 30 dez, sessões às 17h e 21h > €45 a €104 (plateia VIP), 3-12 anos €35 a €94 > informações aqui