Até aos mais distraídos, a instalação à entrada do MAAT não passa despercebida. Virado para o rio, sob o sol de um outono invulgarmente quente, brilha um anel de grandes dimensões, feito de jantes de carro douradas e coroado por um diamante formado por 1 450 copos de uísque em cristal Atlantis. Estereótipo de luxo e de felicidade, Solitário é uma das peças de Joana Vasconcelos que se apresentam na exposição Plug-In, nos dois edifícios do museu.
É o regresso da artista a Lisboa, depois de uma década sem expor na capital – a última vez foi em 2013, no Palácio da Ajuda. “Isto é um momento raro, e jogar em casa é muito mais divertido do que no estrangeiro”, confessa, entre risos, nas vésperas da inauguração.
Este é também o regresso à casa de partida, podemos escrever. Em 2000, Joana Vasconcelos venceu a primeira edição do Prémio Novos Artistas, da Fundação EDP. Um ano depois, fazia a primeira exposição individual na antiga carpintaria da Central Tejo – “não havia sequer eletricidade”, recorda –, onde hoje se ergue o edifício ondulante do MAAT, desenhado por Amanda Levete.
Com curadoria de João Pinharanda, diretor do museu, a exposição reúne trabalhos feitos mundo afora e nunca vistos entre nós, ou que há muito não eram mostrados por cá. No total, contam-se sete (a que se junta um conjunto de desenhos realizados entre 2019 e 2023), entre peças monumentais que nos espantam e outras mais pequenas, mas não menos surpreendentes.
Joana Vasconcelos, de 51 anos, sublinha a forte componente de arte pública desta mostra. Desta vez, diz, “não estamos só dentro, também estamos fora”, enfatizando a multiplicidade de dimensões que o trabalho de um artista plástico pode assumir. No exterior, além de Solitário, encontra-se I’ll Be Your Mirror, máscara veneziana, feita de espelhos emoldurados ao estilo barroco, que levou ao Guggenheim de Bilbau.
Adaptada à Sala dos Geradores da Central Tejo, a Árvore da Vida ergue-se imponente. Com 13 metros de altura, o loureiro, em tons avermelhados e dourados, tem 140 mil folhas, bordadas à mão, em canutilho (técnica de Viana do Castelo), em que foram aplicadas luzes LED, cruzando o trabalho manual com a tecnologia. Concebida e produzida durante o confinamento, em 2020, a obra representa “um novo recomeço” e foi originalmente exposta, neste ano, na Sainte-Chapelle de Vincennes, nos arredores de Paris, no âmbito da Temporada Portugal-França.
Um trio sobre rodas
Suspensa, na Galeria Oval do MAAT, encontra-se a maior das peças desta exposição, uma encomenda do casino MGM de Macau, em 2015. A Valkyrie Octopus, inspirada em Lisboa, emprega uma diversidade de tecidos, crochet, passamanaria, lãs, luzes, bordados de Viana do Castelo e de Niza, tudo trabalhado ao longo de ano e meio. Trata-se da primeira das esculturas modulares da série Valquírias com esta escala (são 35 metros) e técnica (em vez de enchimento, recorreu-se a insufláveis para lhe dar corpo). Um jogo de volumes, texturas e cores, para o qual o público é convocado – e convidado a tocar.
A última sala, pintada de preto, leva o nome de Plug-In (uma alusão aos carros elétricos e à ideia de sustentabilidade), que dá título à exposição. Sob os holofotes, três obras são postas em diálogo: Drag Race, um Porsche 911 Targa Carrera, profusamente ornamentado com talha dourada e plumas encarnadas, que ainda não tinha saído do atelier de Vasconcelos; War Games (2011), um Morris Oxford cravado a espingardas de plástico, e Strangers In The Night, que debita em loop essa canção interpretada por Frank Sinatra – uma presença com um simbolismo especial, aqui, já que foi com esta última peça que Joana Vasconcelos entrou, em 2001, na Coleção de Arte da Fundação da EDP.
Plug-In, de Joana Vasconcelos > MAAT > Av. Brasília, Lisboa > até 31 mar 2024, seg, qua-dom 10h-19h > €11, grátis primeiro domingo de cada mês 10h-13h