Partilha a vista, e uma certa imponência, com a Sé Catedral. A Casa dos 24, como é conhecida aquela que foi a primeira sede da Câmara Municipal do Porto, acaba de (re)abrir ao público. A Urgência da Cidade é a exposição que inaugura as comemorações do centenário do arquiteto Fernando Távora (1923-2005) e procura reconciliar a urbe com a recriação contemporânea do edifício, assinada, em 2002, pelo arquiteto portuense. “Antes da intervenção, isto era uma ruína vergonhosa”, diz à VISÃO Manuel Real. Para o curador da exposição, a obra “reflete o trabalho do arquiteto e confere importância histórica a este símbolo do poder municipal.”
Os 22 metros da torre desta casa foram outrora medidos em palmos (um número redondo: cem), medida que Távora fez questão de evocar, esculpindo mãos no granito, neste renascer das ruínas. Agregou-lhe uma série de elementos significativos, como o brasão liberal, a estátua do guerreiro-fundador O Porto (ainda em fase de reinstalação) e os caixotões banhados a ouro no teto.
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Esta “caixa milagrosa carregada de tempo”, como lhe chamou o arquiteto, é “uma poderosa constelação simbólica da antiga e sempre nova ‘vontade de ser’ da cidade”, enfatiza Jorge Sobrado, diretor do Museu do Porto, rede da qual a Casa dos 24 passa a fazer parte.
Disposta num percurso descendente pelos três pisos, a exposição cruza também o passado com a obra do arquiteto. Nas vitrinas, à entrada, a partir de vestígios arqueológicos e documentos, evoca-se a história e o espírito do lugar. Da Fundação Marques da Silva, guardiã do arquivo de Fernando Távora, vieram fotografias, peças, desenhos e maquetas, agora arrumadas nos dois pisos inferiores, dedicados às suas múltiplas facetas de arquiteto, urbanista, professor e viajante incansável.
Temos uma visão particular da sua arquitetura no estudo dos bairros do Barredo e de Ramalde e no restauro do Círculo Universitário do Porto e do Palácio do Freixo. “Távora era chamado a intervir para resolver situações críticas da cidade”, sublinha o curador. O núcleo fecha-se com testemunhos de colaboradores, como Siza Vieira e Eduardo Souto Moura. No piso térreo, há viagens e ligações a figuras como Picasso e Fernando Pessoa, autor destacado na sua biblioteca de livros e manuscritos.
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Casa dos 24 > Terreiro da Sé, Porto > até 29 out > ter-dom 13h-20h > €4
Ciclo de conversas que procura ler e interpretar o legado do arquiteto portuense no centenário do seu nascimento
Távora: Clássico e Moderno
Arquitetos Domingos Tavares e Nuno Lourenço, moderação de Luís Urbano. 6 out, sex 18h
Távora: Presente e Futuro
Álvaro Domingues modera a conversa entre Andreia Garcia e Nuno Valentim, dois arquitetos de uma nova geração, que não foi aluna de Távora mas sente a sua influência. 20 out, sex 18h