É num cenário minimalista e através da encenação de António Pires que Os Gigantes da Montanha, do dramaturgo italiano Luigi Pirandello, ganham vida e nos confrontam com a necessidade que o ser humano tem de imaginar.
Envoltos nas ruínas do Museu Arqueológico do Carmo e conduzidos pela interpretação de Adriano Luz e de Sofia Marques, entre outros, é fácil entrarmos no mundo onírico de Pirandello, entregando-nos à história da trupe da Contessa, uma companhia de teatro, constituída por atores desiludidos com a vida, que deambula, de terra em terra, à procura de público para representar La Favola del Figlio Cambiato. Chega, por fim, ao Palácio Enguiço, lugar mágico e sem tempo, na margem de tudo o que separa o ordinário do extraordinário, a fábula da realidade, a vida da morte, e povoado de personagens grotescas e marginalizadas pela sociedade, que a acolhe.
Neste lugar, bem como na obra de Pirandello, o sonho, antes de ser um mundo paralelo, é a matéria viva a partir da qual se edifica a própria realidade. Num tempo em que a arte luta contra a higienização do politicamente correto, em que o valor da metáfora nem sempre parece ser compreendido e em que cada vez mais artistas e público parecem ter medo das palavras, a obra recorda a função do teatro e da arte no mundo: fazer sonhar. É que, como sublinha o encenador António Pires, “a arte deve extrapolar o dia a dia, ser uma espécie de espelho profundamente livre da Humanidade, pois só assim podemos voar, imaginar e ser todas as personagens; quando perdemos isso, perdemos algo essencial”.
Os Gigantes da Montanha, que Pires faz subir ao palco até 19 de agosto, abrem, então, espaço para a reflexão sobre a liberdade artística e o poder transformador das ideias e dos sonhos, quando não os receamos nem os pomos ao serviço de “gigantes”, que, ignorando a poesia e correndo atrás de “ecrãs, teclados, grandes empreendimentos e de si mesmos”, se preocupam apenas com afazeres urgentes, desprezando as coisas mais importantes.
Os Gigantes da Montanha > Convento do Carmo > Lg. do Carmo, 27, Lisboa > T. 91 321 1263 > até 19 ago, seg-sáb 21h30 > €10-€16