É curioso como, na brevidade da vida, conseguimos ter tantas existências. Transformamo-nos, reinventamo-nos, mudamos o rosto com que nos apresentamos ao mundo, sem nunca perdermos, completamente, os ecos de cada uma dessas efémeras existências passadas.
É assim o trabalho que Paulo Quintas apresenta em Atlas, na Galeria Francisco Fino. De uma expressão mais matérica a uma pintura mais rasa e gráfica, o artista revela as várias faces com que tem encarado e aprendido a realidade ao longo da vida e dos mais de 30 anos de carreira.
É de tempo que aqui se fala. De obras lentas e densas que convivem lado a lado com representações gráficas, lineares e planas. Nas primeiras, trabalhadas ao longo de dez anos, sobrepõem-se as várias vidas que cada tela foi tendo durante o processo criativo.
Através das camadas de tinta amarela entreveem-se ecos dos círculos e cruzes pretas frequentes no trabalho de Paulo Quintas, linhas verdes e a sugestão de uma paisagem violeta. Estas acumulações, assegura o artista, “não foram pacíficas e resultam de uma autocrítica, de um conflito diário”.
É na dança mais ou menos rápida que Paulo Quintas mantém com cada uma das suas criações que nasce o que, inevitavelmente, será mais uma das existências que ambos, artista e obra, somarão à vida.
Galeria Francisco Fino > R. Capitão Leitão 76, Lisboa > T. 21 584 2211 > ter-sex 12h-19h, sáb 14h-19h > até dia 26 de novembro > grátis