À primeira vista, pareceria que o País – e, em particular, a zona de Lisboa – estava tão bem servido de grandes e médios festivais de música de verão que não haveria mesmo espaço (nem tempo) para mais nenhum. Não foi isso que acharam Artur Peixoto (há vários anos uma presença fundamental, mas discreta, na organização de grandes concertos e festivais em Portugal, atualmente à frente da House of Fun) e os responsáveis pela promotora espanhola Last Tour (que organiza, por exemplo, o festival BBK, em Bilbau, e o Cala Mijas, em Málaga, que também acontece por estes dias). Juntos, criaram o Kalorama, apontando para uma nesga do calendário estival ainda por ocupar, o arranque de setembro, e apostando no conceito de “último grande festival de verão europeu”. A operadora MEO associou-se como principal patrocinador e assim nasceu o MEO Kalorama que, desta quinta, 1, até sábado, 3, vai ocupar o Parque da Bela Vista, em Lisboa, o mesmo espaço de todas as edições do festival Rock in Rio em Portugal.
Quando, em novembro do ano passado, se ouviu falar pela primeira vez do Kalorama, parecia algo de irreal, vindo do nada e anunciando, logo à partida, grandes nomes, como Arctic Monkeys, Kraftwerk ou Chemical Brothers. Chegando numa altura em que o público festivaleiro já pode ter esgotado o plafond disponível para o verão, o Kalorama assumia alguns riscos, ainda maiores sabendo-se que a ambição dos organizadores é a de terem cerca de 40 mil espectadores por dia na Bela Vista.
Mas o grande trunfo do Kalorama é mesmo a qualidade do cartaz (desenhado por quem sabe do assunto e domina os meandros do pujante mercado global da música ao vivo), que já levou a uma elevada procura de bilhetes, cerca de 25% comprados a partir do estrangeiro (com destaque para Espanha, França e Inglaterra). Mas há outras preocupações a serem sublinhadas pelos organizadores nesta primeira edição: o festival está “empenhado em implementar um modelo sustentável e inclusivo” em linha com a Agenda 2030 da ONU, apostando na “inclusão social, na transparência de processos, em energias menos poluentes e na otimização e na reutilização de recursos.”
O Kalorama terá três palcos (MEO, Colina e Futura, com curadoria dessa rádio online) e todos os dias apresenta, a abrir o Colina, artistas locais na programação Chelas É o Sítio. Além dos seis nomes aqui destacados, vão passar pelo festival, entre outros, nos próximos dias, Rodrigo Leão, James Blake, 2ManyDJs+Tiga (dia 1), The Legendary Tigerman, Jessie Ware, Bonobo, Bruno Pernadas (dia 2), Ornatos Violeta, Disclosure, Peaches e Chet Faker (dia 3). Os bilhetes diários custam €61 e o passe para os três dias 145 euros.
1. The Chemical Brothers
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Andam nisto desde 1989 e já passaram por palcos portugueses vezes suficientes para lhes perdermos a conta… A música de Tom Rowlands e Ed Simons parece não envelhecer e mantém a sua eficácia, com um objetivo muito preciso: fazer dançar multidões. Há hits, como Galvanize ou Hey Boy, Hey Girl, que nunca falham. Palco Colina > 1 set, qui 23h30
2. Kraftwerk
Nunca será um concerto comparável a qualquer outro num festival destes tempos. Ver os Kraftwerk em palco tem, necessariamente, uma dimensão histórica, quase arqueológica. Essa abordagem pode parecer injusta falando duma banda que sempre quis situar-se no futuro, e inventá-lo. Mas não façamos confusão: a banda que criou Das Model e The Robots foi fundada, em Düsseldorf, Alemanha, em 1970. Absolutamente pioneiros. E absolutamente vivos. Palco Colina > 1 set, qui 22h
3. Moderat
Faz todo o sentido ver, no mesmo palco, os Moderat a sucederem aos históricos Kraftwerk. De algum modo, há uma linha que, através dos anos e de muitas curvas, liga os dois projetos nascidos na Alemanha. Depois de terem anunciado um hiato em 2017, os Moderat, e a sua eletrónica, ora subtil ora mais enérgica, estão de regresso aos concertos no ano em que lançaram o disco More D4ta. Palco Colina > 1 set, qui 1h
4. Arctic Monkeys
A banda de Sheffield é, para muitos, o grande trunfo desta primeira edição do Kalorama. Os Arctic Monkeys não andavam em digressão desde 2019 e chegam a Lisboa no momento em que acabam de anunciar um novo disco (The Car é o título) para 21 de outubro. De Alex Turner e companhia espera-se sempre a energia com que irromperam na cena pop britânica há duas décadas, que não se viu muito na última digressão, com o vocalista mais apostado em transformar-se numa espécie de clássico crooner. Palco Meo > 2 set, sex 23h
5. Róisín Murphy
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A última vez que atuou em Lisboa foi em setembro de 2019, no Festival Lisb-On. Aí, mostrou como a sua música se torna irresistível em palco, sem grandes margens para falhar. Ainda há ecos dos festivos Moloko, que fundou em 1994 (The Time is Now, lembram-se?), mas Murphy soube depois desenhar uma seguríssima carreira a solo, com canções vestidas de uma eletrónica elegante e dançável. O seu quinto disco em nome próprio, Róisín Machine, foi lançado em 2020 e sublinhou essa vertente virada para as pistas de dança, recuperando ritmos disco que não deixam ninguém parado. Palco Colina > 2 set, sex 21h45
6. Nick Cave & The Bad Seeds
A passagem do músico australiano por palcos nacionais começa a tornar-se uma rotina. Nada que faça enfraquecer a intensidade (e proximidade) com que se relaciona com o seu público, cada vez mais vasto. E há muita gente à sua espera: esta passagem por Lisboa acontece depois do cancelamento, em 2020 e 2021, dos concertos marcados para a Altice Arena (na sequência do lançamento do álbum Ghosteen em outubro de 2019). No Parque da Bela Vista deve repetir-se o alinhamento do concerto que aconteceu a 9 de junho no NOS Primavera Sound, no Porto, com o regresso a velhas canções (como From Her to Eternity, Tupelo, The Mercy Seat, The Ship Song e City of Refuge…) e a interpretação de temas mais recentes e etéreos. O violino e as teclas de Warren Ellis são, cada vez mais, um espetáculo à parte nos mais recentes concertos de Nick Cave. Palco MEO > 3 set, sáb 21h