1. Vhils – Prisma e Interferências: Culturas Urbanas Emergentes, MAAT
Descemos as escadas do museu, ainda mal entrámos e já ouvimos os sons da cidade. Mesmo atrás fica Prisma, a videoinstalação em que Vhils percorre nove metrópoles, de Los Angeles a Xangai. Daqui em diante estamos em Portugal, em Lisboa, na grande área metropolitana que vai de Cascais a Setúbal. Não viajamos apenas no espaço, também viajamos no tempo. Explicam os curadores André Brito Guterres e Carla Cardoso que o objetivo de Interferências: Culturas Urbanas Emergentes – a nova exposição do Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT) – é contar a história da cidade durante os anos da democracia. Com particular destaque para a história não contada, a dos vazios, a das ocultações e omissões, a das heranças por assumir, a dos protagonistas por revelar. A das grandes ausências, resume Carla.
Prosseguimos. Fala-se crioulo, há hip-hop a tocar, vários núcleos que não se distinguem e que, pelo contrário, se cruzam; seguimos uma cronologia que, por vezes, também é interrompida. São muitas as expressões da cultura urbana reunidas em Interferências, encruzilhada de uma metrópole com muitas comunidades. Dos painéis do coletivo Unidigrazz aos fanzines, aos grafítis, à fotografia, ao desenho… Para a ocasião, foram encomendadas dezenas de obras, agora aqui expostas lado a lado com peças provenientes de coleções já estabelecidas. Daí pretende-se retirar, continuam os curadores, muitos diálogos e muitas narrativas. S.B.L. MAAT – Museu de Arte, Aquitectura e Tencnologia > Av. Brasília, Lisboa > T. 21 002 8130 > até 5 set, qua-seg 11h-19h > €9 (Central Tejo + museu)
2. Menez, Casa das Histórias Paula Rego
![](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2022/05/220504_Menez-Sem-titulo-1986.-Tinta-acrilica-sobre-tela.-1565-x-192-cm.-Co-1329x1080.jpg)
Os trabalhos de Menez ocupam uma sala, mas é considerável o impacto do reencontro – ou do primeiro enfrentamento –, com estas pinturas, acompanhadas de gravuras, painel de azulejos (com clara filiação n’A Dança de Matisse) e de um desconcertante cubo pintado. A exposição altera a perceção que fomos costurando sobre a artista como a produtora de obras figurativas de pequena escala e feminilidade ambígua. As pinturas de Menez demonstram pujança e poderio, impressionante domínio da técnica, arrojo cromático e grande escala, muitas explorando os limites da abstração e do figurativismo – sobretudo no trabalho produzido nas décadas de 1960 e 1970, antes de a artista chegar às figuras femininas em paisagens fechadas, ou acompanhadas por elementos arquitetónicos e jogos de perspetiva. Fascinantes também as obras dedicadas ao atelier e ao gesto autobiográfico da pintura, reveladoras da interioridade psicológica de Menez: eu pinto-me a pintar a pintar a pintar… S.S.C. Casa das Histórias Paula Rego > Av. da República, 300, Cascais > T. 21 482 6970 > até 2 out, ter-sáb 10h-18h > €5
3. Tony Conrad, Culturgest
![](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2022/05/220504_tonyconrad.jpg)
Até 3 de julho é possível ver, na Culturgest, a primeira exposição em Portugal dedicada ao percurso do norte-americano Tony Conrad (1940-2016). Um artista, radicalmente multidisciplinar, que funciona bem como exemplo de liberdade e ruturas artísticas da segunda metade do século XX. Experimentalismo é uma palavra que vai bem com esta obra: entre uma atitude de reflexão crítica da sociedade contemporânea (visando, sobretudo, a ideia de autoridade e os instrumentos de poder) e um impulso lúdico, às vezes até pueril, Tony Conrad anulava fronteiras entre géneros artísticos (instalação, música, fotografia, cinema/vídeo…) para, com uma extraordinária economia de meios, avançar nos seus questionamentos e no corpo, algo caótico, da sua obra. O trabalho mais antigo em exposição mostra bem até que ponto o artista queria esticar os limites da arte. Numa folha de papel pode ler-se: “Para executar esta peça, não execute esta peça” (This Piece Is Its Name, de 1961). Destaque ainda para os Yellow Movies: ao pintar retângulos com tintas de esmalte, que mudam de tom ao longo dos anos, propunha-se apresentar filmes de longuíssima duração. Entre luta e diversão, a vida de Tony Conrad ecoa no século XXI. P.D.A. Culturgest > R. Arco do Cego 50, Lisboa > T. 21 790 51 55 > ter-dom 11h-18h > €5
4. Os Loucos Anos 20 em Lisboa, Museu de Lisboa – Palácio Pimenta
![](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2022/05/220504_Anos-20_6-1524x1080.jpg)
Ainda há, provavelmente, quem se lembre do táxi do sr. Macedo, que no final dos anos 80 continuava a assentar praça no Rossio lisboeta. O lindíssimo Oldsmobile XT 303 que andava por ali desde 1928 pode agora ser visto num dos núcleos da exposição Os Loucos Anos 20 em Lisboa. “O automóvel simbolizava a velocidade, o ritmo frenético em que as cidades quiseram passar a viver a partir da década de 20 do século passado, ritmo frenético que se traduzia na dança”, explica Cecília Vaz, investigadora do ISCTE e comissária da mostra, juntamente com Paulo Almeida Fernandes e Mário Nascimento, investigadores do Museu de Lisboa.
São mais de 200 peças, entre fotografias, cartazes, pinturas, vídeos, peças de vestuário e objetos reunidos para mostrar como Lisboa acolheu as vanguardas que marcaram essa década frenética – vanguardas essas depois travadas pelo golpe de 28 de maio de 1926, que impôs a ditadura militar e abriu caminho ao Estado Novo. “Os anos 20 foram uma janela de liberdade e de experimentação”, comenta Mário Nascimento. Com os olhos postos sobretudo nos lazeres, a exposição está dividida em seis núcleos. O maior é o dedicado à vida moderna e ao impacto das manifestações de modernidade: os eletrodomésticos elétricos (lá está um frigorífico), o desporto como um grande espetáculo (que se torna um fenómeno de massas), o veraneio (e o turismo), a nova imagem da mulher (refletindo uma nova identidade feminina), a transgressão moral, sexual e legal (os nus artísticos, a cocaína, os casinos). O visitante passa depois para O Triunfo do Moderno, que evoca alguns dos locais emblemáticos da cidade na época: o Palácio Fiat, na Avenida da Liberdade, decorado por Continelli Telmo; os clubs noturnos Bristol e Maxim’s; os cinemas; e o Parque Mayer, inaugurado em 1922, que, nas palavras de Mário Nascimento, era “uma espécie de cidade do divertimento dentro da cidade, muito heterogénea, onde tanto ia o aristocrata como o homem do povo.” C.L. Museu de Lisboa – Palácio Pimenta, Pavilhão Preto > Campo Grande, 245 > T. 21 751 3200 > até 11 dez, ter-dom 10h-18h (última entrada 17h30) > €3
5. O Esplendor, de Gérard Fromanger, Museu Coleção Berardo
![](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2022/05/220504_Berardo-Gerard-Fromanger.jpg)
Conhecido pelo retrato de anónimos em cenas de rua de cores vibrantes, a obra de Gérard Fromanger (1939-2021) “é a de um grande explorador do mundo que o rodeia, em permanente sintonia com a estética flâneuse de Walter Benjamin ou com as derivas de Guy Debord”, como descreve Éric Corne, o curador. A exposição, no Museu Berardo, reúne as 26 séries que marcaram o percurso do artista francês, num conjunto de mais de 60 quadros, em que se evidenciam “as dúvidas, ruturas, recomposições e técnicas diferentes” usadas por Fromanger, além de uma correspondência com “a sua biografia íntima, os seus encontros, a sua relação com a atualidade e, de modo mais amplo, com a História”. A par de pinturas, desenhos e serigrafias, é exibida a curta-metragem Film-tract n.º 1968 (Filme-Panfleto n.º 1968), de 1968, realizada com Jean-Luc Godard. O título da exposição refere-se não só às séries Splendeurs como também ao poema O Esplendor, de Álvaro de Campos, um dos heterónimos de Fernando Pessoa, do qual o artista era admirador. J.L. Museu Coleção Berardo > Pç. do Império, Lisboa > T. 21 361 2878 > até 29 mai, seg-dom 10h-19h > €5, sáb grátis
6. Brilha Rio, Prata Riverside Village
![](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2022/05/220504_brilhario.jpg)
Ver o letreiro do Hotel Ritz iluminado, e as suas letras gigantes com linhas inspiradas na art déco, evocadoras de uma era de sofisticação passada, é uma viagem no tempo assim como uma lição sobre a relação entre forma e função. Mas ao passear pelo parque de estacionamento do Prata Riverside Village, no Braço de Prata, há muitos mais case studies para contemplar – cerca de setenta peças luminosas estão aí patentes no âmbito da exposição Brilha Rio.
O Ritz é só um dos muitos néons e letreiros do Projeto Letreiro Galeria, que, desde 2014, se tem dedicado ao levantamento e resgate de exemplares de design urbano e lettering luminoso. E o projeto, sublinhe-se, é abrir um museu onde possam albergar as duas centenas e meia de exemplares do património gráfico urbano já acumulados por Rita Múrias e Paulo Barata, designer de formação. Enquanto essa bela e romântica ideia não se concretiza, há que aproveitar as oportunidades para rever estas esculturas quotidianas. Brilha Rio foi organizada por várias áreas temáticas: há alfaiates, marcas de automóveis, cabeleireiros, hotéis, marcas de vestuário, oculistas, restaurantes e bares icónicos, sapatarias. As peças foram resgatadas em Lisboa, Porto, Almada, Algarve, linha de Cascais e Vila Franca de Xira. S.S.C. Parque de Estacionamento Prata Riverside Village > Rua G à R. Fernando Palha, loja 4, Lisboa > T. 96 304 6105 > até 29 mai, sáb-dom 15h-20h > grátis
7. Through a Different Lens – Stanley Kubrick Photographs, Centro Cultural de Cascais
![](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2022/03/220303_9_Stanley-Kubrick_X2011_4_11169_9A-1-1551x1080.jpg)
No ecrã de cinema, conhecemos a poderosa linguagem imagética, a complexidade dos planos, a minúcia estilística, o vanguardismo de Stanley Kubrick (1928-1999) em clássicos como Laranja Mecânica, Full Metal Jackett – Nascido para Matar, ou 2001 – Odisseia no Espaço. Mas o trabalho do Kubrick-fotógrafo não foi mera repérage ou ferramenta utilitária para o futuro percurso cinematográfico – mesmo que as suas fotografias evidenciem já as virtudes dos planos arquiteturais ou do voyeurismo humanista encontrados na obra fílmica. Through a Different Lens – Stanley Kubrick Photographs afirma o norte-americano como um autor capaz de se alçar ao nível dos grandes da fotografia documental do século XX, os que afirmavam o “instante decisivo” e o transformavam em sociologia visual. Kubrick com uma máquina fotográfica na mão é uma testemunha interessada da Nova Iorque do pós-guerra, das cenas instantâneas ou coreografadas aí vividas, das tribos do boxe aos alpinistas sociais, das idiossincrasias e intimismos dos corpos registados por um voyeur assumido.
As fotografias espantam pela maturidade da composição, domínio técnico, capacidade de contar histórias. É que Stanley, a quem o pai ofereceu uma câmara Graflex aos 13 anos, foi contratado como fotógrafo aos 17 pela revista Look – uma concorrente da Life, com milhões de exemplares vendidos. Ao longo de cinco anos, armado com uma Leica IIIc ou uma Rolleiflex, Kubrick criou um espólio com mais de 129 reportagens, 12 mil negativos e folhas de contacto, hoje à guarda do Museu da Cidade de Nova Iorque, do qual saíram estas 132 fotografias dominadas pelo preto-e-branco, muitas inéditas, acompanhadas em Cascais por 41 exemplares da Look. Uma ausência notória? Imagens da reportagem realizada por Kubrick em Portugal, em 1948. Mas há muito que ver. Centro Cultural de Cascais > Av. Rei Humberto II de Itália, 16, Cascais > T. 21 481 5660 > até 22 mai, ter-dom 10h-13h, 14h-18h > €5
8. BORDELLO. Ao que Isto Chegou: Uma Retrospetiva de Hugo van der Ding, Museu Bordalo Pinheiro
![](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2022/05/220504_retrospetiva-de-Hugo-van-der-Ding-20-1600x1067.jpg)
Hugo van der Ding ficou conhecido pelos cartoons de A Criada Malcriada, partilhados nas redes sociais, e pela criação de outras personagens. Na Sala da Paródia do Museu Bordalo Pinheiro, o humorista brinca com o imaginário de Raphael Bordallo Pinheiro, artista e pioneiro da caricatura e do humor. A exposição Bordello. Ao que Isto Chegou: Uma Retrospetiva… conta com desenhos originais, serigrafias, cerâmicas e esculturas em papel moldadas pelo próprio van der Ding, feitas em parceria com o estúdio de impressão e design Lavandaria. S.L.F. Museu Bordalo Pinheiro > Campo Grande, 382, Lisboa > até 18 mai, ter-dom 10h-18h > €3
9. Europa Oxalá, Fundação Gulbenkian
![](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2022/05/220504_europaoxala.jpg)
Europa Oxalá reúne criações de 21 artistas, quase todos filhos ou netos de pessoas nascidas em antigas colónias europeias em África, como Argélia, Congo, Angola, Madagáscar e Benim. Do seu passado e da sua herança têm memórias difusas, que lhes chegam por via familiar e são ponto de partida para um trabalho artístico que questiona (e, por vezes, desconstrói) a memória colonial. Aimé Mpane e Katia Kameli são os dois artistas que António Pinto Ribeiro, programador cultural e investigador do projeto Memoirs – Filhos do Império e Pós-Memórias Europeias, do CES (Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra), convidou para comissariarem com ele esta exposição.
Aqui, cria-se um diálogo entre as peças de artistas afrodescendentes de segunda e terceira geração. Enquanto os primeiros se definem por terem desenvolvido trabalho de investigação nos arquivos históricos, familiares ou institucionais, os últimos caracterizam-se por terem os olhos postos no futuro. É o caso de Sara Sadik, 28 anos, que utiliza uma estética e uma linguagem próximas dos videojogos em Khtobtogone, vídeo sobre a comunidade magrebina de Marselha. Ou de Sandra Mujica, norueguesa com ligações à Nigéria, em cujo trabalho Pinto Ribeiro sublinha “a dimensão de apropriação tecnológica surpreendente” que “destrói por completo o cliché de que os artistas africanos trabalham com artesanato”. Fundação Calouste Gulbenkian > Av. de Berna, 45A, Lisboa > T. 21 782 3000 > até 22 ago, qua-seg 10h-18h > €5, grátis dom a partir das 14h