O que têm em comum Amália Rodrigues, António Variações, as Doce, os The Gift ou Conan Osíris? Ou ainda Maria Teresa Mimoso, Nuno Gama, Helena Cardoso, Maria Gambina ou Luís Buchinho? Entre outras particularidades, a forma como construiram (ou constroem) a sua personalidade e a sua marca através de uma portugalidade impressa na roupa que vestem ou desenham. A exposição Portugal Pop. A Moda em Português 1970-2020 , patente na Casa do Design, em Matosinhos, até setembro, pretende ser “um olhar reflexivo sobre estes últimos 50 anos, para tentar perceber quais as múltiplas formas com que diferentes criadores atuaram neste território”, explica Bárbara Coutinho, diretora do MUDE – Museu do Design e da Moda e curadora desta mostra construída em parceria com a Esad-ideia.
Na exposição, através de 180 coordenados de 40 designers de várias gerações, propõe-se uma viagem a Portugal em 50 anos de moda, desde as vésperas da Revolução de Abril de 1974 – um dos vídeos mais antigos é o de Simone de Oliveira vestida de verde a cantar a Desfolhada, em 1969, no Festival da Canção – , até 2020, representado pelo casaco azul com bordados dourados da coleção que Nuno Gama apresentou, em ano de pandemia, através de uma coreografia de Olga Roriz.
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É ao som do cavaquinho de Júlio Pereira que se entra nesta exposição, ao mesmo tempo que se observa uma peça de Alexandra Moura estampada com a frase “Não é sonho nenhum”, da ceramista Rosa Ramalho. “Aproprio-me dessa frase para dizer que Portugal não é sonho nenhum, mas também não é uma categoria fechada presa em qualquer conceito. É aquilo que cada um de nós consegue recrear e contribuir para a sua construção”, salienta Bárbara Coutinho.
Daí para a frente somam-se vários exemplos. A começar por Amália Rodrigues e os seus vestidos negros criados por Maria Teresa Mimoso a recriarem trajes regionais portugueses como a capa de Coimbra ou o vestido de noiva minhoto ou, mais tarde, os vestidos tipo balandrau, de cores vivas e estampados florais, usados pela fadista. De António Variações, destaca-se a forma original como se reinventa com roupas e acessórios que ele próprio desenha ou coleciona sem esquecer as suas raízes minhotas.
A cultura portuguesa, o rural e o urbano, o popular e o erudito, estão presentes nas criações de Nuno Gama (azulejos ou a camisola poveira), de José Carlos (a calçada portuguesa e o rio Tejo), de Anabela Baldaque (os bordados e tradições religiosas), e de Maria Gambina (saias negras das carpideiras). “Não há aqui nenhuma pretensão de usar estes motivos com sentido pitoresco, mas como uma riqueza cultural potenciadora de criatividade e de desenvolvimento”, continua Bárbara Coutinho. “Estas obras têm uma noção de resgate com uma noção de recriação, e de fazer património.”
O guarda-roupa internacional das Doce, as criações feitas a partir da literatura de Fernando Pessoa e de Sophia de Mello Breyner ou da arte de Júlio Pomar, a inspiração na Rainha Santa Isabel ou no amor de Pedro e Inês, são outros núcleos e temáticas a descobrir. Tal como o casaco O Inventor, vestido por Rui Pregal da Cunha, vocalista dos Heróis do Mar; o estampado do 25 de Abril ou os crochés de Luís Buchinho; as peças de libertação feminina de Ana Salazar e Manuela Gonçalves; a moda camaleónica de Sónia Tavares, dos The Gift; a portugalidade da artista Joana Vasconcelos; o trabalho de Helena Cardoso em lã ou burel com mulheres artesãs em contexto rural; a individualidade na indumentária usada por Cláudia Pascoal com referências aos ranchos populares ou ainda o estilo de Conan Osíris inspirado na animação japonesa.
Em suma, uma exposição sobre como a geografia, a cultura e a História de Portugal se refletiram na moda do último meio século. Ou, melhor, sobre o que foi preciso andar para aqui chegar!
Portugal Pop. A Moda em Português 1970-2020 > Casa do Design, Edifício Paços do Concelho, R. de Alfredo Cunha, Matosinhos > T. 22 939 2470 > até 13 nov, seg-sex 9h-12h30, 14h-17h30, sáb-dom e feriados 15h-18h > grátis