De Espanha, o público português está habituado aos filmes de Almodóvar e a cinema de género, sobretudo de terror. Talvez se deixe surpreender com este O Bom Patrão, comédia original e bem estruturada, de Fernando León de Aranoa. Como cartão de apresentação, tem 20 nomeações para os Goya (conhecidos como os Oscars do cinema espanhol) e Javier Bardem como protagonista, num papel sóbrio e diferente daqueles a que nos tem habituado.
Este “bom patrão”, interpretado por Bardem, pouco terá que ver com Rui Nabeiro ou outro empresário exemplar. Tão-pouco é um título irónico. Blanco é proprietário e gerente de uma fábrica de balanças numa cidade de província. Aparentemente, esforça-se por ter uma relação de proximidade com os empregados. Uma proximidade que, muitas vezes, se torna tóxica. Blanco tanto pode ser um amigo como um falso amigo.
O modo “familiar” com que trata os empregados por “filhos” é também um discurso enganador, sendo que, no momento decisivo, a saúde económica da empresa é posta em primeiro lugar. E para esse tipo de decisões há uma espécie de concertação social caseira: a empresa é prioritária, pois da sua saúde económica depende o trabalho e a vida dos próprios trabalhadores, que às vezes têm de ser prejudicados para seu próprio benefício. O Bom Patrão é um filme politicamente consciente que talvez procure, nas entrelinhas, dizer apenas que não existe tal coisa como um “bom patrão.”
De resto, dentro desse ambiente invulgar, como qualquer comédia o filme é feito de peripécias – provocadas, na maioria, pelo próprio Blanco e consequências dos seus atos. Blanco envolve-se com uma estagiária que descobre ser filha de um amigo da família; solidariza-se com o chefe de produção, mas depois trai-o; e lida mal com o ex-funcionário que acampa em frente à empresa protestando contra um despedimento injustificado. Feitas a contas, entre sorrisos e gargalhadas, a única conclusão a que se chega é que, às vezes, é mesmo preciso mudar alguma coisa para que tudo fique igual.
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O Bom Patrão > De Fernando León de Aranoa, com Javier Bardem, Manolo Solo, Almudena Amor > 120 min