Apesar da crueza da realidade social que o dramaturgo David Greig nos mostra nesta Lua Amarela, pode-se falar de um final feliz – ou assume-se, pelo menos, como um momento da vida em que o par romântico desta história assim o decidiu. Do futuro, não saberemos. “Embora este texto seja muito cru, há uma pequena ideia de esperança, quando eles saem de cena”, refere Pedro Carraca. “Mas isso não significa que deixemos de olhar para a realidade como ela é.”
O espectáculo anterior, Birdland (encenado a meias com Jorge Silva Melo), este e o próximo que Pedro Carraca vai dirigir, Taco a Taco, de Kieran Hurley e Gary McNair, com estreia prevista para março, têm uma linha comum: “O que se espera de nós quando estamos a crescer, o que se acha que vamos ser, como nos vamos gerindo neste processo?” Em Lua Amarela, os jovens Lee e Leila fogem depois de Lee ter dado uma facada no padrasto. Seguem em direção às montanhas, à procura do pai de Lee, que ele não vê desde os 5 anos.
“Neste momento, escreve-se principalmente sobre assuntos como #blacklivesmatter, #metoo. São temas importantíssimos, mas acho que há pessoas melhores para falar sobre eles do que eu”, explica Carraca, a propósito das suas escolhas dramatúrgicas. “A mim, interessam-me espetáculos que contenham uma história simples, estes sonhos do Lee e da Leila.” A perspetiva é a do que é expectável nos jovens por parte da sociedade, da vontade de quererem viver intensamente e até onde isso os pode levar. Há, no fundo, duas faces de um mesmo desejo a impelir o jovem Lee: o sentido da tentação de seguir os passos do pai, e a força de os tentar evitar; um abismo e a tentativa de contrariar esse destino.
Lua Amarela > Teatro da Politécnica > R. da Escola Politécnica, 54, Lisboa > T. 21 391 6750 > até 18 dez, ter-sáb 19h > €10