1. Retrospetiva Sarah Maldoror
O Indie convida-nos a conhecer exaustivamente a obra de uma das mais importantes figuras do cinema negro e feminino. No total, são mais de 50 filmes, entre curtas e longas, programados e apresentados na Cinemateca. Aliás, este número ainda pode crescer, uma vez que a filha da realizadora, Annouchka de Andrade, continua a pesquisar e a enriquecer o espólio da mãe, acrescentando elementos ao próprio programa.
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Apesar de ter nascido em França, Sarah Maldoror sempre explorou a sua ligação ao Caribe, de onde o pai era originário, extrapolando para uma afinidade com África e tornando-se um dos principais rostos do movimento da negritude. Maldoror foi a primeira mulher a fazer uma longa-metragem no continente africano. Muitos dos seus filmes têm um cunho político evidente, mas também um cariz antropológico, ao documentarem a vida e os costumes em diferentes países, incluindo Angola, Cabo Verde e Guiné-Bissau. A realizadora e poetisa morreu em 2020. A sua obra está pronta para ser (re)descoberta pelo mundo. E o Indie quer ser um ponto de partida. Cinemateca Portuguesa (Sala M. Félix Ribeiro e na Esplanada) > 1-8 set
2. Shiva Baby, de Emma Seligman
Não é muito comum encontrarmos no cinema indie americano, nem na secção competitiva do IndieLisboa, bons exemplos de comédia… talvez por algum preconceito em relação ao género. Shiva Baby, da judia norte-americana Emma Seligman, é uma dessas exceções que valem a pena. Um filme de grande irreverência e autoironia, que cria um confronto entre a tradição judaica e a contemporaneidade de um liberalismo de costumes elevada ao seu extremo. O cenário é um shiva, cerimónia fúnebre judaica, que consiste numa “festa de pesar” que ocupa um dia inteiro. Danielle, a protagonista, é uma jovem bissexual que se prostitui, num círculo fechado, para ganhar uns trocos e que encontra o namorado/cliente, com a mulher e o filho, na cerimónia. Isto torna-se palco para momentos hilariantes, entre a formalidade da cerimónia, a pressão familiar, o flirt com a pseudonamorada também presente, o confronto com as várias mentiras e o ciúme. Biblioteca Palácio Galveias – Auditório ao ar livre > 25 ago, qua 21h15 > Culturgest > 2 set, qui 19h
3. Paraíso, de Sérgio Tréfaut
Sérgio Tréfaut regressa ao Brasil, onde cresceu, para filmar as “serenatas” promovidas por anciãos nos jardins do Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, residência oficial do Presidente da República antes da transferência da capital para Brasília. Paraíso documenta um grupo de idosos que encontra na música que eles cantam e tocam o sentido e a alegria de viver. São momentos mágicos, de uma beleza comovente, numa espécie de Buena Vista Social Club amador, de homens e mulheres que têm a música inscrita na alma e que a usam como terapia e redenção. Todo este universo veio a ser assolado pela pandemia e a forma como a presidência de Bolsonaro lidou com ela, contrapondo o Paraíso ao Inferno que se lhe seguiu (mas já não se vê) e dando ao filme um lado político. Culturgest > 6 set, seg 21h (grande auditório), 21h30 (pequeno auditório)
4. A Última Etapa, de Wanda Jakubowska
Em 1948, a realizadora polaca Wanda Jakubowska regressou ao campo de concentração de Auschwitz, onde esteve presa, para realizar um filme de ficção. É um dos mais impressionantes retratos do Holocausto, feito com grande proximidade temporal do acontecimento, a partir da memória de quem viveu o horror e usando o próprio local como décor, antes de este se transformar em museu. Além disso, a realizadora recorreu a sobreviventes de Auschwitz e a habitantes da região para compor o elenco. A Última Etapa, que chega ao Indie em cópia restaurada, é um filme forte e doloroso que descreve o indescritível, para memória futura e para que a História não se repita. Cinemateca Portuguesa > 23 ago, seg 19h
5. Bad Luck Banging or Loony Porn, de Radu Jude
É o primeiro grande filme com a pandemia em fundo, refletindo, de forma subtil e inteligente, sobre questões que se tornaram mais evidentes nestes anos, como a ténue separação entre a esfera pública e a esfera privada e o relacionamento em sociedade. O filme inicia, de forma ousada, com um vídeo porno caseiro, o que é por si só um ato subversivo, mas brilhante, na economia do argumento – começa por mostrar o que toda a gente quer ver, tornando essas próprias imagens secundárias. Depois, divide-se em duas partes. A primeira é um périplo nervoso pelas ruas de Bucareste, em plena pandemia. Encontramos uma sociedade em ebulição que, a qualquer momento, explode. Há discussões violentas no supermercado, atropelamentos sem fuga, gritos e empurrões. Na segunda, há um julgamento, um pouco ao estilo de Miguel Gomes. O vídeo porno caseiro, feito com o marido durante o confinamento, é publicado na internet. E há quem considere que isso faça com que ela já não tenha condições morais para ser professora naquele colégio. Tudo isto com o humor e a capacidade autoirónica a que nos habituou o melhor cinema romeno. Vencedor do Urso de Ouro em Berlim, Bad Luck Banging or Loony Porn é o mais brilhante filme de Radu Jude, cineasta que frequenta o IndieLisboa desde as primeiras curtas-metragens. Cinema S. Jorge > 23 ago, seg 21h45 > Biblioteca Palácio Galveias > 26 ago, qui 21h15
6. No Táxi de Jack, de Susana Nobre
Numa competição nacional, com apenas quatro longas-metragens, destaca-se No Táxi de Jack, de Susana Nobre, que chega ao Indie depois de passar pelo Festival de Roterdão. O filme apura e refina a linguagem que encontramos nas obras anteriores da realizadora. Conta-nos a história de Joaquim, um homem que Susana conheceu no Centro de Emprego de Vila Franca de Xira e que cumpre a busca ativa por emprego, para não perder o subsídio, enquanto conta os dias para a reforma. Joaquim teve uma vida rica e aventureira, com uma experiência de emigração nos EUA, e é com essas memórias que se constrói o filme, em estilo híbrido, uma espécie de autoficção. Culturgest > 3 set, sex 21h45
7. Crock of Gold: A Few Rounds with Shane MacGowan, de Julien Temple
É um dos mais carismáticos renovadores da música popular irlandesa e também um dos alcoólicos mais famosos do mundo. Shane MacGowan, líder e vocalista de The Pogues, é retratado na primeira pessoa por Julien Temple, realizador que dedicou grande parte da carreira a documentários musicais. Encontramos Shane decadente, a sofrer fisicamente as consequências dos excessos que caracterizaram a sua forma de estar na vida, mas inteligente e sóbrio, manifestando um olhar ácido, com humor sobre si próprio, a Irlanda e o mundo. O filme recorre a animações, para contar a história de Shane desde a infância, e tem a música e o álcool como fio aglutinador da narrativa. Um retrato extremamente humano que nos dá vontade de voltar a ouvir as melhores canções da banda irlandesa. Cinema S. Jorge > 28 ago, sáb 21h45, 31 ago, ter 21h30
IndieLisboa – Festival Internacional de Cinema > Culturgest, Cinema S. Jorge, Cinema Ideal, Cinemateca Portuguesa, Biblioteca Palácio Galveias > 21 ago-6 set > €3,20 a €4,50, vouchers: 5 bilhetes €16, 10 bilhetes €30, 20 bilhetes €55 > indielisboa.com