Em vez de um simples boy meets girl, Philippe Garrel fez um “rapaz conhece uma rapariga… e depois outra… e depois ainda outra”. Mas na base está algo parecido. O que não será exatamente uma história de amor, mas sim uma história de relacionamentos na busca eventual do amor. Tudo é construído com aparente ingenuidade, com alguns clichés à mistura, tratados por vezes no limite da ironia por uma narrador omnisciente. Uma das valias do filme é precisamente essa componente narrativa, de quem conta de forma simples uma história, com uma formalidade sóbria, no seguimento dos seus últimos filmes. Aliás, nota-se a escrita de duas referências do guionismo francês: Jean-Claude Carrière e Arlette Langmann.
O Sal das Lágrimas é um objeto estética e narrativamente nostálgico, com os alicerces no cinema francês dos anos 60. Isso, por vezes, cria mesmo uma confusão temporal; dá ideia de que o realizador se atrapalha quando resolve inserir tardiamente elementos de contemporaneidade (estão a mais ou a menos). Tal também se aplica às questões morais levantadas: a sequência de peripécias amorosas da personagem está pejada daquilo a que hoje se apraz chamar masculinidade tóxica, legitimada pela narração, mas que acaba por ter um inteligente revés na parte final, que faz com que a personagem prove do seu próprio… dióxido de carbono.
Veja o trailer do filme:
O Sal das Lágrimas > De Philippe Garrel, com Logann Antuofermo, Oulaya Amamra e André Wilms > 100 minutos