Era uma vinda muito desejada, a de Kamp, criação da companhia belga Hotel Modern (estreada em 2005), a recordar o impensável Holocausto no ano em que se assinalam os 75 anos da libertação de Auschwitz-Birkenau. Uma enorme maquete do campo de concentração é instalada no palco do Teatro Carlos Alberto, com milhares de marionetas minúsculas a representarem os prisioneiros e os seus carrascos, filmados em tempo real, por câmaras-miniatura. “É um espetáculo impressionante, dos mais fortes que já vi, com uma atualidade demasiado grande, dado o regresso da extrema-direita”, confessa Igor Gandra, diretor artístico do Festival Internacional de Marionetas do Porto.
Assim começa nesta sexta-feira, 9, a 31ª edição, cujo tema, Limites Humanos – Ciências e Políticas da Matéria Animada, será abordado em propostas que nos colocam perante “alguma forma poética de limite, em que somos levados a questionar o que é ainda (ser) humano, o que é possível conhecer e desejar a partir desta condição?”.
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O festival conta com 14 espetáculos – entre eles, um concerto, o Ealing Feeder (14 out), com um carrilhão robótico, construído por Sarah Angliss, e a presença de uma marioneta ventríloqua –, sete deles estreias nacionais ou absolutas. Haverá a possibilidade de se assistir às criações de artistas singulares, como a de Olivier de Sagazan que, em Transfiguration, se transforma numa escultura viva no palco do Rivoli (10 out) ou a de Gwendoline Robin, criadora de uma cosmogonia alternativa em Cratère 6899 (18 out).
Também haverá propostas bem-humoradas, como é o caso de Bad Translation (10 out), do espanhol Cris Blanco, que propõe a impossível tarefa de descodificar o universo do digital no corpo dos atores, ou de Troubles (16-17 out), da belga Agnès Limbos, uma referência no teatro de objetos. Refira-se ainda as companhias Alma d’Arame, com O Fim do Fim (11 out), e o Teatro de Ferro, a apresentar Uma Coisa Longínqua (15 out), ambas presenças habituais do festival.
Para o público mais jovem, destaque para Lições de Voo (14 out), do Teatro de Marionetas do Porto, em que se fala sobre a “poética do ar, dos sonhos e do voo”, e Lilliput (16-18 out), a mais recente criação de Ainhoa Vidal.
Festival Internacional de Marionetas do Porto – FIMP > Teatros Municipais do Porto, TeCA, Palácio do Bolhão, Teatro Helena Sá e Costa, Teatro Constantino Nery, Círculo Católico dos Operários do Porto > Porto e Matosinhos > T. 22 332 0419 > 9-18 out > €7 a €12 > 2020.fimp.pt/pt