Fernão Cruz, Sara Mealha e Thomas Langley são os nomes que dão forma à equação F+S+T=X, título da mostra na qual apresentam o trabalho desenvolvido durante a quarentena. X poderia estar para diálogo, ironia ou mesmo provocação. “A ideia surgiu à volta da mesa de um restaurante, em jeito de conversa de café com o Francisco Correia, que é o curador da exposição”, explica Fernão Cruz. “É uma procura da ironia nas coisas que nos acontecem e ganha forma como se fosse uma conversa. As obras trocam impressões entre si e com o público”, acrescenta.
Ainda que despertem um sorriso a quem entra no Prata Riverside Village, em Marvila, Lisboa, todas as obras expostas apresentam um retrato pungente das vivências de cada um dos artistas. A realidade está exposta no muros, nas colunas, no chão e interpela quem a olha de frente.

No espaço rasgado por paredes de vidro, desenhado pelo arquiteto italiano Renzo Piano, a porta de um carro pintada de amarelo e preto é o ponto nevrálgico deste diálogo. “As primeiras memórias que tenho, relacionadas com a pintura, remontam aos meus sete anos. Costumava ajudar o meu pai a pintar carros velhos, tirados da sucata, que ele usava para um tipo de corridas, muito popular entre a classe trabalhadora do Reino Unido, chamadas Banger Racing”, conta Thomas.
O espírito violento e o caráter folclórico das Banger Racing enche também cinco telas, pintadas durante uma demonstração que o inglês deu, por Zoom, durante a quarentena. Velocidade, movimento e cor materializam-se em jatos de sprays florescentes e formas sobrepostas. “Vejo-as como documentos históricos da contemporaneidade. Registam uma tradição dos nossos tempos, como faziam as tapeçarias medievais com as grandes batalhas”, revela o artista.

Batalhas foram também travadas por Sara e Fernão durante os dias de isolamento. Se o trabalho da primeira apresenta uma série de desenhos, representando letras com sombras projetadas, as obras de Fernão refletem a fragmentação do ser humano, bordada à mão em tecidos encontrados na casa da avó. Pendurados nas paredes ou em cavaletes, no centro da sala, estão um homem que se corta ao meio, duas mãos estendidas em busca uma da outra e uma faca que escapa entre os pingos da chuva.
A exposição, patente até dia 1 de setembro, é promovida pela plataforma P’la Arte. Nascida recentemente para dar resposta às dificuldade enfrentadas pelos artistas num contexto económico e cultural moldado pela pandemia, esta plataforma promove uma série de iniciativas, da cedência gratuita de ateliers a artistas à organização de exposições e estágios, bem como a criação de um grupo que apresentará uma proposta de alteração do regime de mecenato cultural atualmente vigente.
F+S+T=X > Prata Riverside Village > R. Cintura do Porto, 41, Braço de Prata, Lisboa > até 1 set > visitas por marcação pelo email plataforma@plarte.org > grátis