A descentralização, o regresso de espetáculos que marcaram a história do teatro, uma equipa “quase” residente de atores, uma nova identidade visual e as obras de reabilitação do edifício vão marcar o centenário do Teatro Nacional São João (TNSJ), inaugurado a 7 de março de 1920.
Turismo Infinito, peça “memorável” de Ricardo Pais, foi a escolhida para dar início às comemorações do centenário. Baseado nos textos de Fernando Pessoa, o espetáculo regressa, de 7 a 9 de março, ao palco onde se estreou há 13 anos. Contudo, as celebrações do dia 7 de março não ficam por aí. “Num gesto simbólico de partilha de palcos”, a peça Castro vai ser projetada na Praça da Batalha às 16h, enquanto é apresentada no Teatro Aveirense. Neste dia de festa, todas as atividades são gratuitas: além da cerimónia oficial, às 20h30, e da apresentação da peça Turismo Infinito (os bilhetes podem ser adquiridos apenas no dia), conte-se ainda com visitas guiadas, a apresentação dos Clubes de Teatro Sub-18 e Sub-88 do TNSJ e a exposição Noites Brancas, no Mosteiro de São Bento da Vitória.
A apresentação das comemorações do centenário do TNSJ, que decorreu esta terça-feira, 11, serviu também para anunciar o investimento que será feito: 2,3 milhões de euros, atribuído pelo programa operacional NORTE 2020, “o maior investimento extraordinário que o São João conseguiu captar desde que foi fundado”, disse Pedro Sobrado, presidente do Conselho de Administração. A grande fatia (1,5 milhões de euros) irá para as obras de reabilitação do edifício projetado pelo arquiteto Marques da Silva, a decorrer entre 31 de março e 1 de outubro de 2021, período em que o teatro estará fechado. “Dentro de dois anos, estaremos sob outras luzes e sobre outras tábuas”, garantiu Pedro Sobrado.
Durante esses seis meses, e segundo Nuno Cardoso, Diretor Artístico do teatro, a atividade do TNSJ vai centrar-se noutros dois locais que a instituição gere: o Mosteiro de São Bento da Vitória e o Teatro Carlos Alberto, deixando a garantia de que “o São João sabe qual é a sua missão”. “Não deixaremos de notar que o Teatro está no Porto e no país.”
No programa comemorativo do centenário da instituição, a descentralização é, precisamente, um dos pontos em destaque. Castro, a primeira produção própria do TNSJ em 2020, estreia-se “fora de portas”, no Teatro Aveirense, a 5 de março, dois dias antes do 100º aniversário do São João. A peça vai passar por outros palcos, até ser apresentada no Porto, a 27 de março – Dia Mundial do Teatro -, onde vai ficar até 18 de abril.
Além da aposta na descentralização, o programa vai focar-se igualmente na internacionalização, através de digressões para países como a Roménia e Espanha, e na “potenciação da língua portuguesa”, especialmente comemorada com Cabo Verde. Segundo anunciou Nuno Cardoso, Castro vai ter uma versão em crioulo, de nome KastroKriola, com a colaboração de atores cabo-verdianos. Serão feitas duas apresentações: no dia 25 de abril, no TNSJ, e a 5 de julho, em Cabo Verde, Dia da Independência do país.
Afonso Santos, Joana Carvalho, João Melo, Maria Leite, Mário Santos e Rodrigo Santos são os seis atores da equipa “quase” residente do TNSJ, a partir de março de 2020. “Temos um núcleo de atores a trabalhar connosco permanentemente nos projetos de produção própria, que serão também rentabilizados em co-produções e outras ações”, disse Pedro Sobrado, acrescentando que é de extrema importância “conferir estabilidade a profissionais e artistas de teatro que frequentemente vivem sem ela” e “que haja consistência ao nível de repertório que cabe a um teatro nacional desenvolver.”
Porque, como afirmou o presidente do Conselho de Administração do São João, “o que fica depois de um espétaculo são as cinzas; as memórias”, o teatro irá ainda lançar, a 7 de março, a coleção Cadernos do Centenário, repartida por seis volumes temáticos, onde se poderão ler 100 textos, de várias personalidades portuguesas, acerca de 100 espétaculos que passaram por aquele palco. Em setembro deste ano, será inaugurada uma exposição inteiramente dedicada à história do TNSJ.
Do programa do centenário constam ainda uma nova identidade visual – “de maneira a dar atenção às palavras”, a sigla TNSJ será abandonada -, o reforço das relações com as escolas e o aprofundamento da política de inclusão através de bilhetes sociais.
De março a julho, irão passar pelo Teatro Nacional São João, pelo Teatro Carlos Alberto e pelo Mosteiro de São Bento da Vitória mais de 30 espetáculos, dos quais três são produções próprias, 11 são estreias, nove de criadores portugueses, oito são internacionais e 11 são coproduções. O centenário do São João será celebrado até março do próximo ano, altura em que fechará para obras de reabilitação.