A Casa das Histórias – Paula Rego vai continuar a funcionar (pelo menos) mais dez anos em Cascais, segundo o novo contrato agora assinado com a autarquia. E a nova exposição aprofunda ligações mais íntimas: Paula Rego: Desenhar, Encenar, Pintar tem obras inéditas doadas pela artista ao museu que decifram parte do caminho entre ideia e gesto, entre tentativas e concretizações, entre princípio e fim. Cadernos de esboços inéditos, desenhos soltos, estudos para obras emblemáticas – como, por exemplo, o d’A Filha do Polícia (de 1987), que aqui mostra a menina a engraxar a bota negra da autoridade paterna, mas sem o queixo orgulhosamente levantado e sem o gato pintado a arranhar a parede do quadro final, ou o de Dressing for Dinner (de 1997), com a jovem mulher a devolver-nos um olhar ainda suave – permitem mapear os processos criativos da artista portuguesa radicada na Grã-Bretanha.
Junte-se-lhes uma série de modelos construídos no ateliê, prática assumida pela pintora a partir da década de 1990: um espetacular teatro de “bonecos” que amplia estranhezas e o folclore arquetípico da pintora e encontra eco em Orgulho/Pride (2019), obra tridimensional pela primeira vez exibida em Portugal. A curadora Catarina Alfaro vê-a como uma continuidade das personagens de contos populares (o príncipe perfeito, a princesinha grávida, o gato das botas…) que Rego criou em tecido, em 1977/78. Esta representação, em tamanho natural, de uma rainha Marie Antoinette em papier machê e tecido, corpo às riscas e penteado exageradamente ornamentado, de joias ao pescoço e criaturas aos pés, sentada num fauteuil barroco, desassossega-nos tanto ou mais do que certas telas…
Paula Rego: Desenhar, Encenar, Pintar > Casa das Histórias Paula Rego > Av. da República, 300, Cascais > T. 21 482 6970 >até 24 mai, ter-dom 10h-18h > €5