Depois de se estrear no IndieLisboa, em 2017, sem grande alarido, a longa-metragem de ficção de Rosa Coutinho Cabral chega finalmente às salas de cinema. Um filme em que o cenário ganha maior preponderância. Tudo se passa na ilha do Pico. Mas ao contrário de muitos outros filmes açorianos, esta é nitidamente uma obra de quem vai de fora para dentro. Começando logo pelas personagens, que chegam do continente para ali se instalarem, com algum encanto e eventualmente esperança. Esse olhar exterior passa no olhar da própria realizadora, que nunca nos dá a sensação de real intimidade com o ambiente, fruto também de uma certa dificuldade na construção das personagens secundárias.
A ilha, de resto, transforma-se numa personagem tanto ou mais determinante do que qualquer outra; o que mais nos enche no filme são precisamente as paisagens, com a câmara constantemente à procura de enquadramentos originais, sem disfarçar essa preocupação. A história em si fala-nos de um casal em aguda crise, arriscando no Pico a construção de algo novo, mas sem grande convicção, sem encontrar forma de contornar o desvanecimento do amor. Não se descobre no argumento uma curva narrativa propriamente dita, é antes um filme sobre um estado de espírito, invariavelmente próximo do vazio.
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Coração Negro > De Rosa Coutinho Cabral, com Maria Galhardo, João Cabral, Miguel Borges, Leonor Cabral > 105 minutos