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Duas peças, interligadas, correm em paralelo no Teatro Aberto, cada uma com um par de atores. A” Mentira” é interpretada por Miguel Guilherme e Joana Brandão; “A Verdade” por Paulo Pires e Patrícia André
Marcelo Albuquerque de Lima
É como os comprimidos azul e vermelho no filme Matrix, dos irmãos (agora irmãs) Wachowski. No foyer do Teatro Aberto existe uma tabuleta azul a indicar A Mentira para a esquerda e, por baixo, uma vermelha a sinalizar a A Verdade, para a direita. Em cena, estão dois espetáculos com textos do francês Florian Zeller, adaptados por João Lourenço e Vera San Payo de Lemos, cuja premissa assenta na ideia de que mentir é inato em todos nós.
As histórias das duas peças são as das relações amorosas, o que se conta, o que se esconde, o que se mente – e o novelo difícil de desemaranhar que daí resulta. Em palco, acontecem as interações entre dois casais: A Verdade passa-se nos anos 50; A Mentira, nos dias de hoje. Em A Mentira, os três cenários, rotativos, em palco são ladeados por quadros de pintores de várias épocas cujas obras afloram a questão da fraude ou da farsa. Há obras de Bosch, Picasso, Hopper. “A instalação de arte dá-me uma forma de mostrar às pessoas, hoje, como se mente”, conta o encenador João Lourenço. “Aqui também me interessou serem casais. No fundo, é aquela velha história do casal em que um engana o outro… e está aí a raiz de tudo. É com isso que nos debatemos. Depois, há os negócios, etc., mas é em casa que dói mais”, continua. “Se virmos as duas peças, todos passámos por aquilo. Mais, menos, mas todos passámos.”
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Marcelo Albuquerque de Lima
A meio de A Mentira, há um interlúdio. Miguel Guilherme vira-se para o público e faz uma espécie de preâmbulo pela génese – já no pecado original, Adão e Eva tinham mentido – da nossa sageza pela mentira e diz: os nossos pais ensinam-nos a mentir desde crianças. A seguir, enceta um diálogo com o público e pergunta, perante o facto de ter cometido adultério na história a que se estava a assistir: “Devo continuar a mentir ou dizer a verdade?” A complexidade e a utilidade dos atos de dizer a mentira ou a verdade garantem as camadas dramáticas necessárias ao teatro das nossas vidas e, na sessão a que assistimos, quando Guilherme pediu ao público para votar… a verdade ganhou, mas por pouco.
A Verdade/A Mentira > Teatro Aberto > Praça de Espanha, Lisboa > T. 21 388 0089 > até 31 mar > A Mentira: qui e sáb 21h30, dom 16h, A Verdade: qua e sex 21h30, dom 18h30 > €8,5-€17