Morreu, na semana passada, Jonas Mekas, mestre do avant-garde nova-iorquino. Com 96 anos, era o decano dos realizadores em atividade. O lugar, que já foi de Manoel de Oliveira, é agora ocupado por Franco Zeffirelli (95 anos) ou Agnés Varda (90), dependendo do que consideramos como “em atividade”. Clint Eastwood tem uns meros 88. No entanto, neste capítulo pouco interessam os recordes. Espanto dos espantos é que, em 2019, Clint nos apresente um filme tão magnífico e humano, equiparável apenas com a sua obra-prima da última década, Gran Torino.
Sobre vários pontos de vista, Clint Eastwood é o maior herdeiro de John Ford. Insiste num cinema “clássico”, com uma estrutura linear em que se conta uma boa história, nunca perdendo de vista a escala humana e as dimensões interiores das personagens com todas as suas contradições. Clint é, mais uma vez, protagonista do seu próprio filme. Encarna o papel de um horticultor, charmoso e brincalhão, ex-combatente na Coreia, amigo dos seus amigos, mas incapaz de responder às exigências mínimas de uma vida familiar. Por acaso do destino, após a falência da sua empresa de cultivo de flores (devido à concorrência da internet), converte-se no mais insuspeito correio de droga ao serviço de um temível cartel mexicano (a história foi inspirada numa notícia do The New York Times). Vemos Clint dançar, cantar, deitar-se com mulheres mais novas, rir, chorar. Um ator e cavalheiro, cheio de estilo e classe, agora como antes. Ao longo do próprio filme, em jeito de autoironia, desenha uma espécie de diálogo-despique intergeracional, numa observação crítica, mas meiga, da mudança dos tempos.
Ao lado dele, está uma surpreendente Diane Wiest. A atriz, que se notabilizou nos filmes de Woody Allen, tem aqui uma presença simultaneamente humana e visceral, revelando, também ela, o imenso talento e classe de quem respira cinema. The Mule, ou O Correio de Droga (desastrada tradução), é um pequeno grande filme, para todas as idades e crenças, na melhor tradição de Hollywood – que, infelizmente, os Oscars não souberam valorizar.
The Mule é o segundo filme de Clint Eastwood datado de 2018. Em fevereiro passado estreou-se, nos Estados Unidos da América, The 15:17 to Paris, sobre os “heróis” norte-americanos que detiveram um terrorista armado num comboio europeu.
Veja o trailer do filme
The Mule – O Correio da Droga > De Clint Eastwood, com Clint Eastwood, Diane Keaton, Bradley Cooper, Manny Montana > 116 minutos