Estranho objeto esta aventura europeia do veterano realizador de televisão norte-americano Dennis Berry, com um formalismo pouco convencional e nos antípodas da linguagem televisiva que desenvolve nas séries que realiza. Ou simplesmente um estapafúrdio exercício de liberdade.
Selvagens é produzido por Paulo Branco, filmado em Lisboa e falado sobretudo em francês (mas também em português e em inglês). Tem uma estrutura minimalista – com a participação de Catarina Wallenstein, da francesa Nadia Tereszkiewicz e de uns quantos atores portugueses – e conta uma história de amor, poesia, marginalidade e liberdade, mas com um artificialismo assumido, algo godardiano, que muitas vezes se torna desconcertante. Essa artificialidade está no espaço e no contexto. A história da rapariga que sai da prisão e vai ao encontro da artista neopunk que admira, numa mansão que é um não-lugar, junto ao porto de Lisboa. Para ali, misteriosamente, convoca todas as personagens da sua vida e vive uma intensa aventura amorosa. Em momento nenhum nos convencemos de que aqueles são verdadeiros órfãos, marginais, mas antes filhos de boas famílias a fazer de órfãos e marginais. Selvagens parece um filme de adolescentes – não que retrate a adolescência, mas realizado por adolescentes ingénuos, com grandes discursos sobre a liberdade artística.
Tudo isto é assumido e declarado (como nos filmes de Gabriel Abrantes), só que o discurso em volta cai em lugares-comuns que se tornam algo enfadonhos. Em grande parte, o filme vive das performances das atrizes, ambas de grande qualidade, embora este não seja um dos melhores papéis de Catarina Wallenstein. E o que tem de melhor são aquelas espécies de telediscos/performances que interrompem a narrativa, de forma forçada, beneficiando da qualidade da banda sonora original de Thomas Rozès.
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Selvagens > de Dennis Berry, com Nadia Tereszkiewicz, Catarina Wallenstein, João Nunes Monteiro > 131 min