“Aprendi que, no meu caso, o desenho é que dita o meu tempo”, diz Teresa Esgaio à VISÃO Se7e. A afirmação serve bem para abordar a prática artística da artista plástica que desenha “porque tem de ser, é uma necessidade”, mas também para enquadrar Take a Number, segunda exposição a solo que apresenta na Galeria Underdogs. No ano passado, aí manteve uma residência artística, de que resultou Elephant vs. Rhinoceros, sobre o confronto verídico entre um elefante e um rinoceronte na corte do rei D. Manuel I, no século XVI. Eram desenhos de grandes dimensões, figurativos e hiperrealistas, que aparentavam reclamar a tradição fotográfica. Porém, o gesto de Teresa Esgaio era pictórico: a artista elaborou minuciosamente esses trabalhos durante longuíssimos meses. Uma maratona empreendida depois de, em 2016, ter-se proposto fazer um desenho novo, a cada dia, durante 100 dias seguidos.
O mesmo gesto minucioso, fotograficamente perfeito, revela-se nos novos trabalhos em grafite em pó, pastel seco e carvão. Do pequeno desenho ao mural de grandes dimensões, que representa um céu estrelado, ela mostra três séries: uma dedicada às humildes senhas das filas de espera (desenhada em tamanho real, uma por dia, até chegar às 100); outra, representando cinco dálmatas em fila (que, sublinha a artista, remetem tanto para o “saber respeitar o tempo das coisas” como para a individualidade e o jogo do acaso, patente na disposição das manchas); e uma última, na qual cabem nuvens, insetos, camas, mapas de ventos, declinações de Pantones cinzentos (nadas quotidianos que desaceleram o tempo). “Trabalhei tanto com o tempo de relógio como com o tempo do clima”, diz, relutante em oferecer muitas explicações. “Esta é uma exposição sobre a espera e a aceitação de que não temos o controlo das coisas. Ou seja, não está tudo nas nossas mãos.”
Take a Number > Galeria Underdogs > R. Fernando Palha, 56, Lisboa > T. 21 868 0462 > até 8 dez, ter-sáb 14h-20h