Em 1996, em Lima, no Peru, um grupo de 19 homens armados, pertencente ao Movimento Revolucionário Túpac Amaru, assaltaram a embaixada japonesa e fizeram uma centena de reféns, incluindo altas personalidades nacionais e estrangeiras. Esse trágico acontecimento terá inspirado a escritora Ann Patchett e, agora, o realizador Paul Weitz, para o filme Bel Canto. Uma história de um sequestro que lança a dúvida sobre quem está do lado certo.
Bel Canto é um filme cheio de fragilidades, mas também com pontos de interesse que o distanciam dos filmes do género. Há uma espécie de ingenuidade romântica assumida logo desde o primeiro instante. O cenário é um palacete na América Latina (não se identifica o país, apenas a pobreza e o regime autoritário). Para convencer um empresário japonês a instalar nesse país a sua fábrica, as autoridades resolvem organizar um recital de ópera com a sua cantora favorita.
Um grupo rebelde, sabendo da presença do Presidente da República no evento, avança para um sequestro. O Presidente acaba por não ir porque não quer perder um episódio da telenovela (demasiado caricato…), os rebeldes veem-se em mãos com largas dezenas de reféns e partem para exigências (quase) impossíveis de cumprir. O que o filme faz, com alguma ingenuidade, é a humanização das partes. Ao longo dos dias de sequestro vão estabelecendo relações sociais, passando o espaço a funcionar como um case study de sociologia comportamental.
A organização social estabelece-se de forma harmoniosa, criando-se laços fortes, não só entre os reféns mas também entre eles e os sequestradores, dando a ideia de que o verdadeiro inimigo, o verdadeiro vilão, está do lado de fora. Tudo isto é completado por uma banda sonora endógena, já que uma das reféns, interpretada por Julianne Moore, é precisamente a tal virtuosa cantora de ópera, capaz de comover corações tresmalhados.
Veja o trailler do filme
Bel Canto > De Paul Weitz, com Julianne Moore, Christopher Lambert, Thorbjørn Harr, Ken Watanabe > 102 min