Nas mãos de Michael Haneke ou Yorgos Lanthimos estaria aqui o material perfeito para um daqueles poderosos e rocambolescos dramas psicológicos, capazes de confrontar o espectador com dilemas morais e éticos, ao ponto de lhe atormentar o sono durante, pelo menos, duas semanas. Nas mãos de Richard Eyre, A Balada de Adam Henry é apenas um melodrama à boa maneira inglesa. Assim se adapta mais um livro de Ian McEwan, sendo desta feita o próprio escritor a assinar o argumento. Aparentemente, o que o cinema encontra em McEwan é essencialmente um profundo trabalho psicológico sobre as personagens, que se constroem de forma multidimensional, enriquecendo logo de base os filmes.
Em A Balada de Adam Henry há uma história forte e violenta lançada como ponto de partida. Adam é um jovem de 17 anos, testemunha de Jeová, que sofre de leucemia. Por motivos religiosos, os pais (e ele próprio) recusam que lhe seja feita a transfusão de sangue que o pode salvar. O hospital interpõe um processo em tribunal para que tal seja feito de forma compulsiva. Isto, por si só, encerra questões éticas, morais, espirituais, legais e filosóficas suficientes para um ou vários filmes. Mas, no caso, é apenas o começo: o filme é sobre aquilo que se constrói em volta. Sobre a juíza, competentíssima, mas afetivamente descuidada, com um casamento à beira da rutura e que, de alguma forma, se reumaniza com este caso – a “salvação” de Adam torna-se, de alguma forma, a sua própria salvação. Os subterfúgios psicológicos revelam-se avassaladores. Tal como em O Sacrifício de um Cervo Sagrado, de Lanthimos, a jovem vítima transforma-se em stalker, só que aqui com argumentos opostos e psicologicamente menos perversos.
E se também se descobre aqui algo de Michael Haneke, fica claro que Emma Thompson não é Isabelle Huppert, nem leva um filme para certos extremos físicos e psicológicos. Ao bom estilo inglês, estamos perante uma personagem muito mais contida, que quando explode não esperneia, apenas verte uma lágrima. E é quanto basta.
A Balada de Adam Henry é o sétimo romance de Ian McEwan a ser adaptado ao cinema. O primeiro foi Estranha Sedução, em 1990, filmado por Paul Schrader. Expiação (2007), de Joe Wright, teve sete nomeações para os Oscars, incluindo para Melhor Argumento Adaptado.
A Balada de Adam Henry > De Richard Eyre, com Emma Thompson, Stanley Tucci, Ben Chaplin e Fionn Whitehead > 105 minutos