Quantas vezes a contemplação do belo consegue transmitir a serenidade necessária a um quotidiano em constante vertigem? Cientes do poder de uma fotografia inspiradora, a 28ª edição dos Encontros da Imagem (EI), que começa esta sexta, 21, escolheu como tema O Belo e a Consolação. “O desassossego da vida contemporânea provoca fragmentação e indiferença. Necessitamos de encontrar um antídoto para a inquietude hiperativa que nos consome e nos afasta da natureza e de nós mesmos. Será que a reconciliação com o mundo passa pela contemplação estética? Podemos aspirar a uma salvação pelo Belo?”, escreve a direção dos EI, no texto de apresentação do programa. Um tema com múltiplas possibilidades, já que “o belo depende de quem interpreta, do conhecimento que tem ou do próprio estado de espírito do momento”, acrescenta Carlos Fontes, o diretor artístico, em conversa com a VISÃO Se7e.
A maioria das 40 exposições concentram-se em Braga, levando o visitante a percorrer 13 espaços da cidade, como o Museu da Imagem, a Nova Galeria do Largo do Paço, o Edifício do Castelo (onde outrora funcionava a Junta Autónoma de Estradas), o Mosteiro de Tibães ou o Convento de São Francisco de Real, em S. Frutuoso. Neste último, “seguimos a tradição de acompanhar grandes edifícios em decadência, e depois sujeitos a intervenção, tal como aconteceu em Tibães nos anos 80, levando à sua descoberta”, sublinha Carlos Fontes. Mas haverá extensões nas cidades de Barcelos, Guimarães e Porto, sobretudo de trabalhos pertencentes ao espólio dos EI.
A partir de uma open call internacional, a que se submeteram 286 candidaturas de todo o mundo, foram selecionadas 16 exposições, com abordagens muito distintas do tema. Falam-se das questões de género, como é o caso da série de retratos de Anne-Sophie Guillet, Inner Self, ou do projeto Woman Go No’Gree, de Gloria Oyarzabal, enquanto construção sócio-cultural. Dá-se a conhecer a “máquina” das cirurgias estéticas da China, em Make me beautiful, de Yufan Lu, ou o “maravilhoso” mundo dos encontros via aplicações online, em My Tinder Boys, de Yushi Li. Ou expõem-se registos fotográficos ao estilo road trip, como é o caso de Along the Break, de Roei Greenberg, uma viagem física e metafórica pelo vale Great Rift, em Israel. “Aparecem-nos coisas fabulosas, que mostram que somos mais do que um festival de fotografia, mas também de artes visuais”, conta Carlos Fontes. Do programa constam ainda os trabalhos de vários fotógrafos convidados, desde a jamaicana Marcia Michael ao português Alfredo Cunha, assim como uma mostra retrospetiva do festival galego Outono Fotográfico, o segundo mais antigo do mundo.
No âmbito do festival está a ser igualmente promovido o prémio Emergentes Encontros da Imagem, com temática aberta. “Houve 118 candidaturas, 20% de portugueses, e foram admitidos 50 artistas, que seguidamente vêm a Braga mostrar os seus trabalhos perante um júri internacional”, descreve o diretor. Os 20 finalistas participarão depois numa exposição coletiva, a inaugurar na semana seguinte em Guimarães, e o vencedor terá garantida (além de um prémio no valor de cinco mil euros) uma exposição individual na próxima edição dos Encontros de Imagem. Uma oportunidade para conhecer a nova geração de artistas.
Durante o festival – sobretudo, no fim de semana inaugural –, estão previstas várias atividades paralelas, desde concertos, feiras, cinema, conferências e workshops.
Encontros da Imagem > vários locais de Braga, com extensão a Guimarães, Barcelos e Porto > 21 set-28 out > grátis