Agosto, já se sabe, é mês de jazz na Fundação Calouste Gulbenkian, com o histórico festival que há mais de três décadas passou a juntar estas palavras, Jazz em Agosto, quase como um selo de garantia. Curiosamente, este ano começa em julho, já esta sexta, 27, prolongando-se depois até dia 5 de agosto, com uma programação especial, inteiramente dedicada ao saxofonista e compositor norte-americano John Zorn – sendo a primeira vez, na longa história do festival, que o mesmo é organizado em torno de um único artista. O concerto de abertura apresenta uma formação inédita, com o próprio John Zorn, que surgirá acompanhado pelo guitarrista Thurston Moore (ex-membro dos Sonic Youth) e de um ensemble composto por Mary Halvorson (guitarra), Matt Hollenberg (guitarra), Drew Gress (contrabaixo), Greg Cohen (contrabaixo) e Tomas Fujiwara (bateria).
A obra de John Zorn – este apresentar-se-á ainda em mais dois concertos, com Ikue Mori e como membro dos Masada – funcionará também como ponto de partida para a série de 22 concertos que trazem até Lisboa nomes como Marc Ribot, Mary Halvorson, Dave Douglas, Kris Davis, John Medeski, Craig Taborn, Trevor Dunn, Barbara Hannigan ou Brian Marsella, todos eles com presença assídua nas edições da produtora do músico nova-iorquino, a Tzadik.
Em paralelo com a programação musical, e como já é tradição, haverá também um ciclo de cinema, no qual se destaca o documentário John Zorn (2016-2018), do francês Mathieu Amalric, que revela um lado mais íntimo do músico de quem o realizador também é amigo.
TRÊS PERGUNTAS A RUI NEVES, DIRETOR ARTÍSTICO DO JAZZ EM AGOSTO
É a primeira edição dedicada a um músico e é também a 35ª edição do Jazz em Agosto. Porquê centralizar neste músico em particular?
John Zorn é um musico e compositor brilhante, criativo e eclético que apela ao atual gosto fragmentário das audiências. A admiração que temos por ele fez-nos apresentá-lo da maneira mais completa e possível retratando a sua plena atualidade. Foi precisamente essa globalidade característica de Zorn o que mais nos interessou e interessa à sua audiência.
Como foi esse processo de programação e preparação? Até a identidade gráfica do festival reflete o músico…
Conhecendo pessoalmente John Zorn desde os anos 1990 e tendo estado próximo dele nas diversas vezes que se apresentou em Portugal, começámos ambos a construir um elenco possível desde o ano passado que representasse a atualidade da sua música dando também relevo à sua label, a Tzadik, fundada em 1995. O desenho gráfico feito por Heung Heung Chin, autora das capas da Tzadik, confere um maior rigor estético ao festival deste ano.
Quais os destaques destes dez dias de concertos e que mudanças assinala na programação?
Não existem concertos secundários na sequência que se apresenta. Tentando não ser injusto, poderei destacar o concerto raro do quarteto Masada, o concerto de órgão tubular de John Zorn com Ikue Mori, a estreia do novo grupo Insurrection, o trio inédito Highsmith, a première europeia da celebrada soprano Barbara Hanning na peça de Zorn, Jamalattaret, o concerto de flauta contrabaixo de Robert Dick ou o filme de Mathieu Amalric sobre Zorn.
Jazz em Agosto > Fundação Calouste Gulbenkian > Av. de Berna, 45A, Lisboa > T. 21 782 3000 > 27 jul-5 ago, sex-dom 18h30, 21h30 > €5 a €135 (passe)