
Com interpretações deslumbrantes, as atrizes Ana Moreira e Margarida Vila-Nova sustentam o filme
A infância e a adolescência têm sido temas recorrentes dos filmes de Jorge Cramez. Em Amor Amor, o regresso às longas-metragens dez anos depois de Capacete Dourado, avança um pouco na idade das personagens, mas o espírito mantém-se semelhante. Em muitos pontos, é uma espécie de aventura de liceu protagonizada por homens e mulheres adultos, imberbes e sem grandes responsabilidades, que passam o tempo entre conversas de café, bebedeiras e dissertações sobre o amor. Em geral, fica a sensação de que as personagens de Amor Amor preferem falar sobre o quanto estão apaixonadas do que realmente se apaixonarem. Passa a ideia de que há um problema de casting: a história encaixaria mais naturalmente em atores e personagens mais novos.
O filme parte de um argumento muito antigo. Talvez por aí também se possa explicar essa perceção de deslocamento etário. Inspira-se em Pierre Corneille (La Place Royale), dramaturgo francês do século XVII, e coloca em confronto duas posturas antagónicas sobre o amor: o amor eterno e o amor vadio. E é a atitude ou definição das personagens perante o amor que dita a ação e suas consequências -– o que se revela de forma clara e inequívoca logo no diálogo inicial, entre Marta e Lígia.
Esteticamente Cramez é cuidado, mas não esconde a sede de aproveitar ao máximo a beleza da cidade de Lisboa como cenário (abusando de lugares comuns, como os miradouros). Serve-se também de alguns expedientes de forma bem-sucedida, como o uso exógeno de música clássica sobre a pista de dança, oferecendo-nos uma leitura mais emocional daqueles momentos. O melhor que o filme tem são as atrizes (os atores são medianos). Ana Moreira e Margarida Vila-Nova com interpretações deslumbrantes sustentam o filme e ganham cada cena, concedendo-lhe emoção e naturalidade na justa medida.
Amor Amor > de Jorge Cramez, com Ana Moreira, Jaime Freitas, Margarida Vila-Nova, Nuno Casanovas, Guilherme Moura > 107 minutos