Haverá propostas da Grécia, do Burkina Faso, da África do Sul, da Argentina, do Brasil e de outras latitudes, dando continuidade a uma programação internacional ambiciosa (22 espetáculos, 15 dos quais em estreia nacional) que tem sido a marca do Teatro Municipal do Porto (TMP). Sem nunca esquecer a criação nacional, contabilizando-se 22 coproduções de raíz, 15 destas realizadas com estruturas que trabalham a partir da cidade. Estes foram os números realçados esta quarta-feira, 10, durante a apresentação da programação do primeiro semestre do TMP (dividido entre dois polos, o Rivoli e o Campo Alegre).
Por parte de Tiago Guedes, diretor artístico, manteve-se a vontade de revisitar “os clássicos contemporâneos”, convidando artistas para apresentar, não necessariamente a última peça, mas uma das mais emblemáticas do seu percurso. É o que acontece, por exemplo, com Philippe Quesne, um dos encenadores franceses mais curiosos da atualidade, que regressa ao Rivoli, a 16 de fevereiro, com La Mélancolie des Dragons. Um espetáculo com dez anos, “de uma atualidade e frescura muito interessantes”, segundo Tiago Guedes, antecessor de Swamp Club, que subiu ao mesmo palco em 2015, contrariando o efeito dominó do seu trabalho, em que a última cena de um espetáculo dá o mote para o seguinte. Será também o caso de Raimund Hoghe, a singular figura da dança contemporânea, outro repetente neste palco, que está neste momento a trabalhar numa remontagem de Old Voices, Young People (criada para a Capital Europeia da Cultura de 2002, em Bruges), juntamente com 12 jovens do Porto, escolhidos por audição, a que dará o nome de Momentos of Young People (23 de março). Uma forma de alargar o alcance do Paralelo – Programa de Aproximação às Artes Performativas, e “uma oportunidade rara para jovens bailarinos [e não só] conviverem com Hoghe”, considera Tiago Guedes. “É uma versão completamente nova da peça”, sublinhou o coreógrafo alemão (presente na conferência de imprensa), que apresentará ainda La Valse, a 29 de março, a sua última criação.
Um olhar transversal pela programação permite destacar alguns espetáculos. A temporada começa, como é habitual, com a comemoração do 86º aniversário do Rivoli, no próximo dia 20, com mais de uma dezena de propostas que abarcam diferentes gerações, de entrada livre, desde as 11 da manhã até de madrugada. Entre elas, destaque para El Baile, o espetáculo que resulta da parceria entre a coreógrafa francesa Mathilde Monnier e o escritor argentino Alan Pauls, explorando as mitologias argentinas. Refira-se ainda Coro, o “quase-musical” dirigido por André Murraças, com colaboradores de várias áreas do TMP, da limpeza às bilheteiras, como intérpretes e fonte inspiradora. Neste mês, a mala voadora também apresentará Amazónia no Rivoli, dias 26 e 27.
Fevereiro começará com uma estreia da Circolando, Raio X, dias 1 a 3, no Teatro Campo Alegre, plena de inquietações metafísicas, em diálogo com a metafísica. Nos dias 9 e 10, será a vez de subir ao mesmo palco o novo espetáculo criado e encenado por Albano Jerónimo, Um libreto para ficarem em casa seus anormais, construído a partir do texto de Rodrigo García.
Em março, o coreógrafo grego Dimitris Papaioannou, que ficou internacionalmente conhecido por ter assinado a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Atenas, traz pela primeira vez um espetáculo ao Porto, The Great Tamer, dias 9 e 10, com a plasticidade e a poesia habituais nas suas criações. Haverá ainda a estreia, dia 14, da peça Maioria Absoluta, a encerrar a trilogia da juventude do Teatro Experimental do Porto.
Do restante semestre foi revelada, não toda a programação, mas alguns destaques. Desde logo, os festivais DDD – Dias da Dança, e o Trengo, dedicado ao circo contemporâneo, ambos em maio. Abril será mais focado no teatro, com estreias dos espetáculos da Confederação e do Ao Cabo Teatro, assim como uma proposta curiosa do serviço educativo, Pendiente de Voto, do espanhol Roger Bernat, que colocará em palco um plenário de 60 adolescentes para debater as questões da democracia. Em junho, para além de três semanas dedicadas ao FITEI, marcará presença Salia Sanou, coreógrafo do Burkina Faso, com o espetáculo Do Désir D’Horizon. Já em julho, será a vez de ver Sanctuary, o projeto-instalação do sul-africano Brett Bailey, que ocupará o terceiro piso do edifício dos correios. É começar a apontar na agenda.