São fotografias, mas não são o sujeito, antes o predicado. São o predicado de obras que propõem desconstruir a ideia de produção de imagens únicas em prol da afirmação do conceito de série, são o predicado de obras que pretendem documentar processos performativos, são o predicado de obras que se assumem como instalações. O período destas imagens, reunidas na exposição comissariada por Delfim Sardo, não é casual: é “atravessado pela Revolução do 25 de Abril de 1974”, como se escreve na folha de sala de O Fotógrafo Acidental.
A segunda série composta por 99 diapositivos a cores (1976-1978), A Mão, de Ângelo de Sousa, encena a ideia de loop, de repetição, de ato não único, mas infinito; cada volta do carreto confere uma nova camada de sentido aos grandes planos de mãos que nos mostram cada veio e cada poro da pele.
A série de 16 fotografias de lábios cosidos de Helena Almeida, parte da coleção da Caixa Geral de Depósitos, chama-se Ouve-me (1979) e o título acentua o pretérito da fotografia, da visão, em prol de outro sentido, o da audição; a imagem é um veículo para sentirmos a mudez e imaginarmos o desespero da incapacidade de comunicação daquela pessoa fotografada, daquela boca – a da própria Helena Almeida.
Em Night Works (1979), Fernando Calhau desconstrói as camadas narrativas da imagem de uma floresta, entre o preto e branco do chegar da noite e o azul de uma noite escura. Cabe-nos a nós, espectadores, o exercício de sobrepor a noite sem cor e a noite com cor – and see the whole picture (em inglês, porque não há uma justa tradução em português).
O Fotógrafo Acidental: Serialismo e Experimentação em Portugal 1968-1980 > Culturgest > R. Arco do Cego, 50, Lisboa > T. 21 790 5155 > 20 mai-3 set > ter-sex, 11h-18h, sáb e dom 11h-19h