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O realizador de Twin Peaks, David Lynch, olha para a sétima arte como um meio para expressar toda a sua subjetividade e para deixar correr os seus instintos
Depois de nos desembaraçarmos daquelas intimidadoras cortinas vermelhas, deparamo-nos com Laura Palmer e Cooper sentados frente a frente, com um olhar ausente. Em voz distorcida, ela diz-lhe: “Olá agente Cooper, vemo-nos de novo dentro de 25 anos, entretanto…”. Cumpre-se a promessa e começa tudo outra vez: o genérico, com a música de Angelo Badalamenti, enganadoramente melancólica, a paisagem, com os penhascos e uma cascata, onde a natureza encobre o fundo sobrenatural. Twin Peaks, a série de David Lynch e Mark Frost, está de volta, 25 anos depois. E desde o dia 29 de maio que pode ser vista por cabo. São 18 inesperados episódios feitos com a mesma crueza, perícia, tortura psicológica.
O regresso da série é pretexto mais do que suficiente para celebrar a obra de David Lynch, porventura o maior ícone do cinema americano, que não estreia qualquer filme em sala há 11 anos. Tal é feito, em Lisboa e no Porto, não só com a reposição em sala de alguns dos seus mais enigmáticos filmes, como também com a estreia do documentário David Lynch, The Art Life (2016).
O filme de Rick Barnes, Jon Nguyen e Olivia Neergaard-Holm tenta desvendar o gerenciador de mistérios. Ou seja, parte na direção das primeiras curtas metragens de Lynch para tentar explicar a origem do seu universo rocambolesco. Percebe-se que há uma inequívoca influência da pintura abstrata. O realizador olhou para a sétima arte como um meio para expressar toda a sua subjetividade, para deixar correr os seus instintos, quer no campo visual quer no campo narrativo.
É também através dessa perspetiva artística do cinema que se percebe a força basilar de Lynch: a hábil e aterrorizante exploração do subconsciente, tal como acontece com os surrealistas (com destaque para Buñuel). Lynch navega entre universos paralelos que interagem desordenadamente, tendo porventura um significado oculto que só nos é permitido intuir e não compreender. É o que acontece com Mullholand Drive, a sua obra-prima, agora também reposta em sala, em que Lynch junta uma estética glamorosa, influenciada inclusive pela publicidade, a um universo deambulatório, com brechas de significação.
Também em sala, Twin Peaks: Fire Walk with Me, uma precuela; Twin Peaks: The Missing Pieces, com cenas cortadas da série; e as primeiras curtas do realizador.
Ciclo David Lynch > Cinema Ideal > R. do Loreto, 15, Lisboa > T. 21 099 8295 > Cinema Passos Manuel > R. Passos Manuel, 137, Porto > T. 22 205 8351 > 1-14 jun