José Avelar
O pavimento da Praça do Comércio é agora feito de pequenas pedras que se soltam facilmente e podem ser bem irritantes, mas há um motivo para isso. Um motivo histórico: recriar o terreiro pré-terramoto; e um motivo técnico: permitir a permeabilidade do terreno à água. Na sala de esquina do Torreão Poente da praça, agora integrado no Museu de Lisboa, vê-se na janela da esquerda o Terreiro e, na da direita, o rio Tejo – que nos tempos romanos era considerado a autoestrada por excelência da cidade, segundo palavras da cocuradora da exposição Debaixo dos Nossos Pés – Pavimentos Históricos de Lisboa, Lídia Fernandes.
“Os pavimentos permitem estabelecer fatias históricas. Tudo o que está por baixo é anterior e tudo o que está por cima será posterior, se os conseguirmos datar é ótimo”, explica esta arqueóloga em Lisboa há 29 anos. “Perante os pavimentos existentes, eles significam que houve outros que não funcionaram ou deixaram de funcionar. Interessou-nos tornar isso uma evidência.”
Da pré-História, com a reprodução de uma lareira existente na Rua dos Correeiros, em Lisboa, à sala dedicada às épocas romana e islâmica, ao sistema de macadame instalado no século XIX para responder à introdução do automóvel na cidade, que não se adaptava bem às calçadas em seixo rolado, viajamos aqui, no tempo, olhando para o chão, com os pés bem assentes na terra. Há, ainda, a sala do tempo Manuelino, recordando o primeiro monarca urbanista em Portugal que mandou recuar as balcoadas dos edifícios por uma razão muito prática: as carruagens não passavam.

Debaixo dos Nossos Pés, Pavimentos Históricos de Lisboa > Museu de Lisboa – Torreão Poente > Pç. do Comércio, 1, Lisboa > até 24 set > ter-dom 10h-18h > €3