
Camané diz que a base dos espetáculos será, como sempre, a guitarra, a viola e o contrabaixo. “Mas haverá espaço e liberdade para algumas surpresas”
Gonçalo Rosa da Silva
Desde que se deu a conhecer, já lá vão mais de 20 anos, Camané conseguiu sempre reunir à sua volta um consenso pouco habitual na música portuguesa. A palavra que mais bem define o modo como encara o fado e a música em geral, é inquietação. Basta ver a forma como tem avançado sem pudores pelos mais variados territórios (sejam eles o rock, a pop ou o jazz) sem nunca perder o pé ao fado. Porque é um de um fadista de corpo inteiro que se trata, sempre que Camané sobe a um palco, apenas acompanhado pelo trinar de uma guitarra portuguesa ou por uma orquestra inteira, como agora vai acontecer, durante quatro dias, em Lisboa.
Não sendo algo de inédito, pois Camané já havia atuado antes com a Orquestra do Algarve e com esta mesma Orquestra Metropolitana de Lisboa (OML), é no entanto a primeira vez que apresenta um espetáculo inteiro, com um repertório completo, composto por alguns dos seus temas mais conhecidos, mas também alguns inéditos, com novos e surpreendentes arranjos, feitos propositadamente para a ocasião pelo pianista Filipe Raposo. O convite, que partiu do Teatro Municipal São Luiz, do Museu do Fado e da OML, foi logo aceite pelo fadista, como o próprio afirma à VISÃO Se7e: “Já tinha trabalhado com o maestro Cesário Costa e foi uma experiência fantástica, que queria muito repetir, mas agora de uma forma muito mais intensa”.
Camané tinha apenas dez anos, quando, em 1979, venceu A Grande Noite do Fado. Já mais crescido e após um período a atuar em casas de fados e nas produções de Filipe la Féria, grava o primeiro álbum, Uma Noite de Fados, em 1995. Seguiram-se mais seis álbuns de originais, o último dos quais, Infinito Presente, editado em 2015. Há muito apontado como a melhor nova voz masculina do fado, apostou sempre num repertório tradicional, mas sem nunca deixar de arriscar em novas linguagens poéticas e musicais, como mais uma vez prova nestes concertos.
E apesar dos cerca de 40 músicos presentes em palco, promete que “haverá espaço e liberdade para algumas surpresas”, até porque a base do espetáculo será, como sempre e como dantes, a guitarra, a viola e o contrabaixo. Ou, como explica, “a ideia não é perder o lado do fado, mas sim dar-lhe uma outra e maior dimensão”.
Camané e Orquestra Metropolitana de Lisboa > Teatro Municipal São Luiz > R. António Maria Cardoso, 38, Lisboa > T. 21 325 7640 > 9-12 mar, qui-sáb 21h, dom 17h30 > €11 a €22