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Richard Foreman
Até que ponto é que Pastoral Americana nos pode ajudar a compreender a América que aí vem, com o temido regresso à idade das trevas? Há livros que são do tamanho de um país. E o livro de Philip Roth é um deles. Uma espécie de clássico instantâneo, retrato endémico de um povo, história íntima da América do terceiro quartel do século XX. Estranho é que a adaptação de tão grande obra tenha sido dada a um realizador estreante e inglês: o ator Ewan McGregor.
McGregor abordou-a com a cautela de alguém que acaba de tirar a carta de condução e vê-se com um Ferrari nas mãos. Acelera nas retas, abranda nas curvas, mas sobretudo tem cuidado em não se estampar. Há assim um respeito pelo grande romance, que é digerido de forma pragmática, eliminando eficazmente tudo o que é supérfluo e concentrando-se no enredo central. Tal como o livro, o filme fala na sua essência sobre a fragilidade do modelo americano de vida ou, se quisermos, como o sonho americano pode transformar-se em pesadelo. Pelo caminho, toca nas feridas sociais da América, algumas das quais pareciam estar saradas (com a presidência de Obama), mas que agora ameaçam voltar a estar em carne viva.
McGregor, que faz o papel principal, tem uma atuação irrepreensível, tal com os atores com que contracena. Tem a inteligência de fazer de Lou Levov, o pai de Swede, uma personagem de Woody Allen, o que contribui para desanuviar uma atmosfera que caminha de forma galopante do nostálgico para o trágico. O que falta a McGregor é o rasgo, o risco, não obstante conseguir uma grande cena como a do encontro no quarto do hotel. De resto, é um filme eficaz que de alguma forma repercute o impacto do livro ao contar a sua grande história.
Pastoral Americana é um dos mais importantes livros da literatura anglo-saxónica do final do século XX. Publicado em 1997, o romance de Philip Roth ganhou o prémio Pulitzer no ano seguinte. O guião do filme foi escrito em 2006 e a realização começou por ser entregue a Philip Noyce (Perigo Imediato), que acabou por desistir do projeto.
Uma História Americana > de Ewan McGregor, com Ewan McGregor, Jennifer Connelly, Dakota Fanning > 108 min