A poucos dias da abertura, ainda há post-its com notas um pouco por todo o lado, mobiliário à espera de se acomodar, obras de pintura e escultura a aguardar um último retoque, e algum pó no ar.
A azáfama é grande, para tudo ficar pronto a tempo da inauguração do Museu da Misericórdia do Porto (MMIPO), na Rua das Flores, a 16 de julho. O caminho foi longo, o tempo de espera muito. “Em algum momento tinha de se concretizar”, diz António Tavares, provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP), que aproveitou “o novo perfil da rua e a dinâmica turística da cidade” para concretizar uma ideia “com dois séculos” e alguns meses.
Neste edifício de três andares, na zona histórica da cidade, onde durante séculos estiveram os serviços centrais, o secretariado e o gabinete do provedor (agora aberto a visitas, tal como o cofre), o percurso será feito “de cima para baixo”, seguindo as indicações, embora nada impeça a inversão de sentido. Para quem quiser, o museu disponibiliza, de forma gratuita, uma aplicação móvel que serve de guia e na qual se podem ver algumas peças em pormenor. No terceiro piso, relembram-se princípios fundadores da instituição, que data de 1499, a sua história e atividade.
Com uma museografia depurada, de painéis agrupados ao centro, onde o preto faz sobressair o valioso património artístico e cultural, cada sala exibe uma temática diferente. A cada passo, sucedem-se diferentes “arranjos” para mostrar os detalhes únicos das peças. É um “museu de conteúdos”, onde se acomodam as coleções de pintura, escultura, ourivesaria e paramentaria. Entre elas, surgem peças de grandes artistas portugueses, obras maiores da pintura europeia e emblemáticos trabalhos da ourivesaria nacional. Esta última, sempre associada à encomenda de objetos de apoio às celebrações religiosas, exibe um cálice e uma patena, em prata dourada, oriundos do Mosteiro de Arouca.
Ultrapassada a sala da igreja, que deve a fachada barroca e o recortado arco do coro a Nicolau Nasoni, espreite-se a antiga sala do provedor. Reserve-se tempo para observar o Fons Vitae, célebre painel do século XVI de autor desconhecido. “Está para nós como a Mona Lisa para o Museu do Louvre”, afirma António Tavares. Ao lado, em diálogo, está agora uma escultura de Rui Chafes, que começa na sala, prolonga-se para a rua e reflete-se no chão sempre que chove.
A visita inclui ainda a bonita galeria de exposições temporárias que ocupa todo pátio central e uma sala imersiva, onde se visiona virtualmente uma ideia, do século XVIII, que nunca saiu do papel, para transformar a envolvente à Rua das Flores.
MMIPO – Museu da Misericordia do Porto > R. das Flores, 15, Porto > T. 22 092 8111 > ter-dom 10h-18h30 > €5 > Visitas e percursos temáticos €3,50