Isto não é a América, nem África, nem o Médio Oriente, nem uma célula do Estado Islâmico. Isto é Itália, um dos sete países mais industrializados dos mundo, a terceira economia da Zona Euro. Isto passa-se em Roma, um dos berços da nossa civilização. Depois de Gomorra, Stefano Sollima realiza Suburra, um filme cheio de crime, corrupção, massacres, numa teia que envolve empresários, parlamentares e a própria igreja. Ninguém está longe dos tentáculos libidinosos do crime organizado à italiana. O filme é thriller incendioso e incendiário que não deixará ninguém indiferente e relança o debate sobre como travar os maiores do crime organizado. Claro que é uma obra de ficção. Mas é suficientemente assustador saber que se baseia em factos verídicos.
Se, em Gomorra, Sollima se infiltrava no microcosmos da máfia no sul de Itália, revelando a identidade atual de um grupo amplamente enraizado na sociedade napolitana, em Suburra avança impiedosamente para a capital do império, onde as esferas de interesse se concentram nos principais órgãos de soberania. O que aqui é mostrado transforma a corrupção transversal ao parlamento brasileiro numa brincadeira de crianças.O filme é produzido pela Netflix, que tem investido cada vez mais na produção, mesmo na Europa, embora a sua área preferencial seja as séries televisivas e os documentários. Suburra tem todos os ingredientes de uma boa série televisiva, com emoção, suspense e intriga. Há um desenvolvimento inteligente das personagens, mas sobretudo um ambiente geral, reforçado pelo cuidado fotográfico no retrato de Roma. É uma cidade longe do esplendor arqueológico e histórico que deslumbra os turistas, é antes uma cidade ocupada por uma névoa descaracterizante, uma chuva dissolvente, que embacia o olhar da câmara e a deslava. Em Suburra encontramos uma Roma que não encontra paz.
Suburra > De Stefano Sollima com Pierfrancesco Favino, Elio Germano, Claudio Amendola, Alessandro Borghi > 130 min