Um quarto sem janela é o universo de Jack, uma criança nascida numa cave, onde a mãe, durante anos, esteve à mercê de um sequestrador. A história contada no best-seller de Emma Donoghue, e parecida com outras de impacto mediático, chega agora ao cinema, pela câmara de Lenny Abrahamson. Quarto está nomeado para melhor filme, mas é um dos grandes favoritos ao Oscar de melhor atriz, pela interpretação assombrosa de Brie Larson.
A primeira parte é aquela que se passa no quarto, de sensivelmente 10 metros quadrados. Abrahamson fecha-nos nas quatro paredes e explora os limites do mundo de Jack. É um fértil terreno ficcional, que nos chega a lembrar Lars Von Trier (ou pensar no que Trier faria com um argumento destes), onde há uma relativização do universo e, simultaneamente, um instinto maternal apurado em pequenos detalhes. É motivante o desafio de desenvolver o filme entre paredes estreitas, optando pelo uso de grandes planos e movimentos dinâmicos de câmara, que não disfarçam a claustrofobia, sem recorrer a cenas de desespero histérico. Essa primeira parte é quase perfeita, até porque tem a inteligência de abordar a história do sequestro numa fase final, sem recorrer a explicações demasiado minuciosas, deixando o cinema falar por si. Com a libertação, fruto de um ousado plano de fuga, sentimos que o filme acabou. Mas há um segundo filme que começa. Todos os psicólogos concordam que este tipo de sequestro não termina com a libertação das vítimas. E, talvez por isso, Abrahamson quis ir até outro fim, explorando a deriva emocional e psicológica das personagens, que passa pela síndrome de Estocolmo. A segunda parte é mais vulgar, quer em termos narrativos quer em termos cinematográficos. Tal como as suas personagens, o filme tem dificuldades de adaptação ao imenso espaço exterior e perde a coerência estética. Contudo, nunca deixa de ser uma obra notável. E Brie Larson merece o Oscar.
Quarto > De Lenny Abrahamson, com Brie Larson, Jacob Tremblay, Sean Bridgers > 118 min