Haverá melhor forma de assinalar o centenário de Eugénio de Andrade do que pelas próprias palavras? O homem que descobriu a ternura num “arbusto de fogo”, que observou os que “eram de longe”, e que do mar traziam “doçura e ardor nos olhos fatigados”, e que amou “como o frio corta os lábios”, vê agora os seus versos celebrados num espetáculo filmado, com encenação de Daniel Gorjão.
Obscuro Domínio, que oscila entre o teatro, a declamação poética e a televisão, aborda temas que vão da Natureza ao desejo, passando pela morte e pelo próprio processo de criação poética, tal como a obra homónima, publicada pela primeira vez em 1972.

Num campo de ténis abandonado, povoado de espelhos, flores, fardos de palha e um piano de cauda, três performers e um pianista interpretam, através da voz, do corpo e da música, diversos poemas de Eugénio de Andrade, dando vida ao que Daniel Gorjão define como “uma paisagem sensorial, límpida, ardente, solar”.
Do nascer ao pôr do Sol, o “amor de privação”, subjacente a cada verso saído das mãos do poeta, ganha um novo espaço onde reverberar e parece sussurrar: “na sombra inclinada de melancolia. Procura. Procura a maravilha”
Obscuro Domínio > RTP2 > sáb 14 out > 22h