A realidade intrometeu-se na ficção e mudou a história da série britânica, que retrata as aventuras e, sobretudo, as desventuras, do gangue mais temido em Inglaterra, no início da década de 1930, data em que se situam os mais recentes episódios. O adiamento das gravações, provocado pela pandemia da Covid-19, levou ao corte de uma temporada e a sexta tornou-se a derradeira. O mais dramático, contudo, foi a doença da atriz Helen McCrory, que obrigou à eliminação da sua personagem do guião, a carismática tia Polly. A equipa soube da morte prematura da britânica, aos 52 anos, já durante as gravações, em abril do ano passado. O luto real combina com o luto ficcional. Aliás, o ator irlandês Cillian Murphy (Thomas Shelby) classifica a temporada de despedida como “dark as fuck” (sombria como o…). Encurralado pelo IRA, pela extrema-direita britânica e norte-americana e pelos seus próprios fantasmas, Thomas Shelby procura desesperadamente a redenção. As traições, essas, estão por todo o lado, incluindo dentro da família. O espectro da tia Polly paira ao longo de todos os episódios, mas é inegável o vazio deixado pela sua ausência.
A banda sonora de Peaky Blinders continua irrepreensível. Além de Mozart e Puccini, destacam-se Anna Calvi, Joy Division, Idles, Count Basie ou The Smile (a banda que junta Thom York, Jonny Greenwood e Tom Skinner). A maior pérola musical é a versão de Patti Smith de Red Right Hand, a canção de Nick Cave que se tornou o hino da série.
No último duelo, Thomas Shelby confronta-se com o único adversário que não consegue vencer. Afinal, o nosso inimigo mais impiedoso somos sempre nós mesmos.
O autor da série, Steven Knight, já garantiu que a saga familiar dará origem a um filme, mas ainda não foi revelado o elenco, que, naturalmente, deverá ter em conta as personagens sobreviventes…
Peaky Blinders > Netflix > Estreia 10 jun, sex > 6 episódios