Sem qualquer tipo de devoção por Bryan Cranston, o carismático Walter White de Breaking Bad – bela sugestão para (re)ver em tantas noites de confinamento –, rendemo-nos ao enredo de Your Honor. A nova série criada por Peter Moffat estreou-se no início de dezembro, mas os seus dez episódios, um novo a cada segunda-feira, terminam só em meados de fevereiro. E são muito viciantes. Vale a pena pegar no início do mistério que nos apresenta Michael Desiato, um juiz impoluto que vê a vida virada do avesso quando o seu filho Adam (Hunter Doohan) atropela mortalmente o filho de Jimmy Baxter (Michael Stuhlbarg), o líder do crime organizado de Nova Orleães.
De forma primorosa, Desiato – habituado a julgar casos da vida de outras pessoas – entra numa espiral de invenções e mentiras que põem em causa toda a sua sensatez. São cativantes os momentos de conversa entre o juiz e a inspetora da polícia (parece que está sempre prestes a ser apanhado, pelo menos até ao sétimo episódio), com uma advogada com quem até se envolve emocionalmente, embora seja um viúvo recente e saudoso, ou com outros cúmplices dos seus esquemas. O modo elaborado e sub-reptício como (para conseguir o que quer) se apropria das histórias dos processos que lhe passam pelas mãos em tribunal tem muita arte e tornam este um grande argumento. No fundo, apesar de ser juiz, Desiato mostra que só quer ilibar o filho de um homicídio. Mas, pelo caminho… tanta coisa corre mal.
As discrepâncias entre brancos e negros, ricos e pobres são tão acentuadas que as situações de injustiça retratadas na série rapidamente, na vida real, criavam mais um movimento, como o Black Lives Matter, contra a violência racial – que nos EUA continua a fazer sentido.
Your Honor > Um novo episódio a cada segunda-feira > HBO