A dedicação às causas e a energia contagiante de Ana Luísa Amaral (1956-2022) inspiram esta edição da Feira do Livro do Porto. Já sem a presença da poeta e tradutora, que morreu no passado dia 5 de agosto, o programa “trabalhado com a própria mantém-se, pois é a melhor homenagem que lhe podemos fazer”, diz Nuno Faria. Para o coordenador da programação da feira e diretor artístico do Museu da Cidade, esta edição será “ainda mais simbólica e emotiva”, dada a participação de “muitos cúmplices, e profundos conhecedores da sua obra.” Das conversas aos espetáculos de palavra dita, do cinema às sessões à volta dos livros, com a presença de autores e artistas como os brasileiros Luca Argel e Domenico Lancellotti.
Nos jardins do Palácio de Cristal, ao longo da Avenida das Tílias, a Feira do Livro do Porto conta este ano com 126 pavilhões e 84 participantes, entre distribuidoras, editoras, livreiros e alfarrabistas, mantendo a configuração de anos anteriores. São mais de 100 as atividades grátis previstas, já a partir desta sexta-feira, 26, e até 11 de setembro.

Caberá a Maria Irene Ramalho, que foi professora e mentora de Ana Luísa Amaral, “dar uma lição” a partir de dois dos livros, a recente coletânea O Olhar Diagonal das Coisas e o volume de ensaios Arder a Palavra e Outros Incêndios, da autoria da homenageada, uma das vozes mais celebradas da poesia nacional, e distinguida a nível internacional. A sessão está marcada para este sábado, 27, pelas 11h30. Da parte da tarde, às 16h, exibir-se-á o documentário Entre Dois Rios e Outras Noites, de Nuno F. Santos e João Nuno Soares, que viaja “pelos lugares e pequenos ofícios” da poeta. Segue-se a conversa O Som que os Versos Fazem ao Abrir, moderada por Luís Caetano, com cinco cúmplices: a atriz Teresa Coutinho, a professora Rosa Maria Martelo, a ex-ministra da cultura Isabel Pires de Lima e o escritor Nuno F. Santos.
Já no domingo, 28, voltam a destacar-se as três décadas de poesia reunidas em O Olhar Diagonal das Coisas, revisitado agora pela voz de, entre outros, Pedro Serra e Joana Matos Frias (11h30). À tarde, juntam-se à conversa três das tradutoras que mais colaboraram com a poeta: Livia Apa, Lauren Mendinueta e Catherine Dumas recordam a tradução de importantes autores anglo-saxónicos como Emily Dickinson, William Shakespeare e John Updike em Da tradução e outros desvios (16h). Nuno Faria destaca ainda a performance do diseur Isaque Ferreira, uma das vozes das Quintas de Leitura.
Outra figura evocada é Manuel Gusmão, poeta humanista, a quem será dedicada a exposição Escrevo Para Um Amigo que Virá, apresentada como “uma celebração da palavra poética”, uma vez que nela confluem “os diversos e decisivos universos”, de Maria Velho da Costa a Ruy Belo.
Palavras ditas
Nesta 9ª edição da Feira do Livro, dedicada à poesia, haverá quase todos os dias palavras ditas por poetas de diferentes gerações, como Cirila Bossuet, Susana Sá, Emília Silvestre ou Renato Filipe Cardoso, e conversas com autores e cronistas, de escrita desarmante, como Cláudia Lucas Chéu, Valério Romão e Cláudia R. Sampaio, num programa desenvolvido por João Gesta.

As Quintas de Leitura vão ainda dedicar uma “Festa da Palavra” especial a Ana Luísa Amaral, para a qual convocaram muitas artistas “contaminadas pela eletricidade magnética da sua poesia”. Em Brancura de Relâmpago, sempre às 18 horas, a escritora Inês Fonseca Santos vai estar à conversa com Rui Couceiro (30 ago) Sérgio Godinho (2 set), Pedro Eiras (31 ago) e José Carlos Barros (1 set), quatro autores que “teimam em adorar a liberdade livre”.
Na Concha Acústica, com curadoria de Tiago Andrade, vão decorrer sessões de palavra dita com IAN, projeto da violinista Ianina Khemelik, e a Lisbon Poetry Orchestra, já neste domingo, 28, às 19 horas; o cantautor Aníbal Zola e Maze, que apresentará o disco Simbiose (4 set, dom 19h), e, a fechar, Goela Hiante, um espetáculo de poesia soturna da autoria de Marta Abreu e interpretado por Adolfo Luxúria Canibal (11 set, dom 18h).
Na Biblioteca Almeida Garrett, mas também no Lago dos Cavalinhos haverá ainda muitas atividades para famílias, com sessões de contos, oficinas de desenho, espetáculos para bebés e o Mini Porto Belo (10 set, sáb 11h-13h, 15h-17h), o mercadinho de crianças para crianças. Destaque ainda para o espetáculo História da Aranha Leopoldina, de Ana Luísa Amaral, contada em narrativa versificada, pela Assédio Teatro (28 ago, 4 e 11 set, dom 17h).
Por fim, assinale-se o regresso do Porta-Jazz ao Relento e dos Concertos de Bolso, a celebrar a nova música portuguesa feita na cidade do Porto, com curadoria dos Maus Hábitos.
Feira do Livro do Porto > Jardins do Palácio de Cristal, Porto > 26 ago-11 set, seg-qui 12h-21h, sex 12h-23h, sáb-dom 11h-23h > feiradolivro.porto.pt