O irreverente Maus Hábitos volta a surpreender e, desde o centro do Porto, onde nasceu há 20 anos, desdobra-se para criar dois novos lugares, à sua imagem, em Lisboa e Vila Real. A abertura ao público acontecerá neste sábado, 15, em simultâneo nas duas cidades.
Na capital, ficará instalado no Selina Secret Garden, no chamado triângulo de S. Bento, e encarregar-se-á do restaurante e do bar com uma programação regular durante o jantar. Já em Vila Real, terá a concessão do café-concerto do teatro municipal, onde vai criar uma extensão do projeto Maus Hábitos do Porto. Ali, ao bar juntar-se-á uma área de galeria para exposições e um palco. “A expansão vai permitir criar escala em várias áreas de programação”, diz-nos Daniel Pires, fundador e diretor do Maus Hábitos – Espaço de Intervenção Cultural.
Foi já durante este período de pandemia que o Vícios de Mesa, o restaurante do Maus Hábitos, cresceu do salão nobre para a sala de espetáculos, alargou o horário e passou a ter uma programação cultural ao jantar. O modelo, que será agora replicado em Lisboa e em Vila Real, mantém o programa artístico, organizado pela Saco Azul, associação cultural do Maus Hábitos, passando a chamar-se Vícios à Mesa. “Se há algo que a pandemia nos ensinou é que podemos fazer as coisas de outra maneira. Por isso, nos dias mais calmos, vamos ter um programa eclético associado a uma refeição”, continua Daniel Pires.
Em Lisboa, o fado já se escuta à mesa, mas a ideia do Maus Hábitos é ir mais além com uma agenda cultural “forte e regular” que incluirá poesia, música punk, eletrónica… “de forma a criar hábitos e dinâmicas”. Aliado à agenda cultural, servirá um menu mediterrânico e uma carta de cocktails da autoria do restaurante do Porto.
Na verdade, o Maus Hábitos está no Selina Secret Garden, a convite destes, desde o verão, mas só agora abrirá a quem não está alojado no hotel. “Estamos no meio de um jardim muito bonito, mas sem palco ou teia, por isso, os espetáculos vão decorrer de uma forma mais informal”, sublinha Daniel Pires. Com curadoria da Saco Azul, destaca-se o ciclo de concertos experimentais Oscilador Gráfico, que começa com a dupla Miguel Carvalhais e Henrique Fernandes a dar som ao trabalho do designer gráfico Serafim Mendes (15 jan, sáb 21h), e na rubrica Sons à Mesa poderá ouvir-se Venga Venga (19 jan, qua 22h) e Osso Vaidoso, de Ana Deus e Alexandre Soares (26 jan, qua 22h). Haverá ainda DJ sets com “a diversidade que se vai ouvindo pela capital e não só.” Até final do mês, ao fim da tarde, vão passar pela cabine do Selina, os DJ Dingo, Trafulhice, Death Disco Disaster, Paolo Dionisi e Radio Safari.
Extensão a Vila Real
Ao contrário de Lisboa, a chegada do Maus Hábitos ao Teatro Municipal de Vila Real não partiu de um convite, mas de um concurso público que lhes atribuiu a concessão do café-teatro para desenhar um projeto abrangente. “Será um Maus Hábitos com todas as suas valências. Além de restaurante e bar, teremos um palco, artes visuais e a possibilidade de fazer festas, embora sem a mesma cadência do Porto”, afirma Daniel Pires. Para levar o espírito alternativo, urbano e de convergência cultural que tanto caracteriza o projeto portuense, em Vila Real vão cruzar-se a literatura, a poesia, o cinema, a música e as artes performativas com a comida e a bebida, à hora de jantar. “Serão duas novas casas diferentes, mas com modelos parecidos, em termos de restauração”, diz. No café-teatro, frente ao Parque do Corgo, além do Vícios à Mesa, a associação Saco Azul vai programar a galeria e o palco assumindo-se como um “novo agente cultural e artístico no interior do País.”
O programa, complementar à agenda do teatro municipal, abrirá com a exposição Arte Robótica, do artista Leonel Moura, neste sábado, 15, seguido de um concerto de Angelica Salvi, Pedro Tudela e Inês Nepomuceno que fazem parte do projeto Oscilador Gráfico, que reúne seis designers e doze músicos numa exploração sonora e visual. Agendada para a próxima terça, 18, está a poesia dita do Palavra à Mesa, com Ana Deus (Ban, Três Tristes Tigres, Osso Vaidoso), acompanhada de vídeo arte e música. No dia 20, o Oscilador regressa ao palco com a dupla Sarnadas e Lorr No a dar som à partitura gráfica de Avelino Resende.
Às quartas, o palco receberá concertos de bandas emergentes e não só com as noites Sons à Mesa. Este mês poderá ouvir-se Aurora Pinho (19 jan, qua 22h30) e Pedro Tróia (26 jan, qua 22h30). Já no dia 25, será a vez do espetáculo Cabarex, com o encenador e performer Filipe Moreira, a fazer parte da rubrica Cabaré à Mesa. Cumpre-se assim a ideia de “sair da zona de conforto” e levar “o espírito” do Maus Hábitos a novos territórios, mantendo o quarto andar da Rua Passos Manuel, no Porto, igual a si próprio. “É o nosso quartel-general, o lugar de onde todas estas coisas nascem e partem. E que convém manter, por razões óbvias”, sublinha Daniel Pires.
Maus Hábitos – Vícios à Mesa > Selina Secret Garden > Beco do Carrasco, 1, Lisboa > T. 91 687 6871 > seg-dom 8h-23h > Teatro Municipal de Vila Real > Al. de Grasse, Vila Real > T. 91 678 6787 > ter-qua 12h-24h, qui-sáb 12h-2h > www.maushabitos.com, www.sacoazul.org