A espera acabou. Dezanove meses depois, os clubes com música para dançar e as discotecas podem reabrir nesta sexta-feira, 1. No entanto, depois de um hiato tão grande, estima-se que isso aconteça apenas em 30 a 40% dos casos.
A data ficará também marcada como um dia importante para o setor, o primeiro a fechar em março de 2020 e o último a abrir – e que poderá, agora, funcionar normalmente, sem limite de lotação ou uso de máscara. A única diferença será a obrigatoriedade de apresentar o certificado digital de vacinação ou um teste negativo – nem vale auto-teste. Como é que isso vai funcionar na prática, é uma pergunta que só poderá ficar respondida in loco.
No Village Underground (VU), a festa começa já nesta quinta, 30, quando passar um minuto da meia-noite. O anfitreão, Gustavo Rodrigues, vai abrir a pista de dança de Alcântara, numa noite de reencontros e emoções que durará até às 6 da manhã. Ao longo do fim de semana – que conta ainda com o bónus de uma véspera de feriado –, vai ser possível dançar ao som de DJ Caring (sexta, 1), de John-E (sábado, 2), e de Early Jacker (segunda, 4). Ao final do dia, continuam assegurados os habituais DJ sets: esta sexta, 1, com DJ Faria, e no sábado, 2, com NelAssassin. A entrada no clube custa €10 (consumíveis), enquanto para os DJ Sets na esplanada é gratuita.
O Lux, em Santa Apolónia, decidiu esperar pela noite da libertação. Depois terem experimentado (quase) de tudo para não ficarem simplesmente fechados – de pequenos-almoços musicais a fins de tarde no terraço passando por concertos sentados (a maioria ao abrigo do programa municipal CIRCUITO) –, estão de volta para serem o que sempre esteve na essência desta casa, uma discoteca. Para estes novos tempos, promete-se excelência, outra coisa não seria de esperar: “Somos bons a tirar imperiais, (…) a jogar com as luzes, a passar música, a juntar as pessoas”, pode ler-se num comunicado publicado nas redes sociais nas vésperas destas noites que há tanto se anseiam. Para o fim de semana de reabertura, estão já confirmados os concertos de Costanza, na sexta, 1, às 22 horas, e de Whosputo, um dia depois, à mesma hora. Até domingo, 3, DJs como Zé Pedro Moura, Varela, Dexter, Inês Duarte, Bill Onair e Trol 2000 estarão ao comando da mesa de mistura (a partir das onze da noite) para garantir que, naquelas pistas, se encara “o deboche [como] um assunto sério e a dança [como] uma função vital”. Porque sair à noite é muito mais do que beber copos.
O Trumps, no Príncipe Real, também não quis esperar mais. O arranque dá-se já nesta sexta-feira, 1, entre as 23 e 45 e as 6 da manhã, com a festa “The Royal House of Trump Returns” que, entre cocktails e shots, bolas de espelhos e pista de dança, volta a juntar DJ, gogo boys, gogo girls e drag queens, numa noite que promete matar as saudades de todos aqueles que sentem falta de uma boa saída à noite, em modo LGBT+. A acompanhar os espetáculos, estarão trabalhos de artistas plásticos, no âmbito do projeto Queer Art Lab. Os preços de entrada fixam-se nos €12 às quintas-feiras e €15 às sextas-feiras, sábados e vésperas de feriados, sempre com duas bebidas incluídas.
Sacudir o corpo e a alma
Mais abaixo, no Cais do Sodré, o MusicBox Lisboa volta a abrir as portas na sua morada original, depois de uma temporada de concertos de verão na Casa Capitão, no Beato. Já nesta sexta, 1, por volta da meia-noite, o ator e DJ José Pimentão abre a pista de dança, seguindo-se o ator Nuno Lopes que assume a mesa de mistura até às 6 da manhã. “Nem consigo acreditar. Nunca desejei tanto que uma noite chegasse”, escreveu Nuno Lopes na sua conta de Instagram. No sábado, 2, à mesma hora, a abertura da pista de dança está a cargo de Sheri Vari e Xinobi & Moullinex e, na segunda, 4, é a vez de Cigarra e King Kami passarem música (entrada €10, inclui duas senhas de bebida).
Na Linha de Cascais, o 2001 Cidade do Rock, no Autódromo do Estoril, também festeja a reabertura da noite, nesta sexta-feira, 1 de outubro, pela madrugada adentro. Com começo apontado para a meia-noite, a festa de reabertura contará com música dos DJ Carlos Ferreira e Cláudia Arauz, até perto das 6 da manhã, sempre com rock por companhia. Felizmente para os seus clientes habituais, nada mudou nestes meses todos.
Ao longo de outubro, outros espaços noturnos lisboetas abrirão as portas. Na próxima semana, na quinta, 7, o Lust in Rio volta à versão original de discoteca, depois de, nos últimos meses, ter funcionado exclusivamente como restaurante, com o nome Lá no Rio. A reabertura conta, porém, com novidades. À pista de dança junta-se agora um restaurante, com uma ementa de Chakall, e que funcionará como um dinner club, entre as 20h e as 4 da manhã. Os clientes do restaurante terão entrada assegurada na discoteca, sem necessidade de pagarem o habitual consumo mínimo para dançarem nas várias pistas de dança, abertas até às 6 da manhã.
Uma semana depois, na sexta, 15, o B.Leza também regressa ao mapa noturno da capital, e com ele traz, como sempre, os ritmos quentes e exóticos das músicas de Cabo Verde, Guiné e Angola. Além de um cartaz eclético já confirmado para as próximas semanas – Jon Luz, Cremilda Medina e Princezito são apenas alguns dos nomes que vão atuar na discoteca –, as noites do B.Leza contarão também com a habitual banda residente. Em relação aos preços de entrada, Madalena Saudade e Silva, responsável pela comunicação do B.Leza, afirma à VISÃO Se7e: “Continuam a depender de concerto para concerto, mas não vão variar muito do pré-pandemia. Acreditamos que as pessoas não estão no seu melhor momento e o que queremos é que o B.Leza seja um sítio de encontro e de proximidade com o outro, que permita matar saudades depois de tanto tempo fechados.”
Festa adiada
Apesar de a maioria das discotecas já ter abertura agendada, há outras que continuarão fechadas, sem data para regressarem. É caso do bar e discoteca Incógnito, na Rua dos Poiais de São Bento, que estará de volta “possivelmente em novembro”, respondem-nos do outro lado no Instagram, ou do Roterdão, na Rua Cor-de-Rosa, que não abre nos próximos tempos. “Hoje é dia de festa porque a noite vai voltar a ser noite!!! Já sinto o formigueiro nas paredes, e, mesmo que as minhas portas não reabram hoje, estou feliz porque sei que vais poder voltar a dançar sem medo. Estão a preparar o meu regresso e espero festejar contigo antes do fim do ano. Até lá, aproveita cada minuto para ser feliz. E não te esqueças de mim”, eis o apelo postado na página do Facebook da mítica casa do Cais do Sodré.
Já o Jamaica, o Europa e o Tokyo, que há uns meses saíram da Rua Cor-de-Rosa para renovadas (e melhores?) instalações no novo centro de diversão noturna lisboeta, o Cais do Gás, ao lado da estação de comboios do Cais do Sodré, aguardam pela inauguração em conjunto. Prevista para o final do mês de novembro, a abertura está agora apontada para o primeiro trimestre de 2022, devido a atrasos nas obras.
As novidades, porém, são bastantes, logo a começar pelo horário de funcionamento (os três bares deverão estar abertos 24 horas por dia) e pela introdução de uma aplicação, que facilitará os pagamentos e convites para as festas nestes bares. No entanto, garante-se que a tradição musical de cada um se mantém, garantindo-se assim que a identidade sai intacta desta remodelação. Por exemplo, no Tokyo inaugurar-se-á um palco de maiores dimensões para receber uma programação idealizada em parceria com Piqué, baixista dos The Black Mamba. “Apesar de as nossas novas instalações serem consideravelmente maiores, não queríamos que se perdesse aquilo que nos caracterizou ao longo de tantos anos. O novo Jamaica, por exemplo, continua a ser relativamente pequeno e a apostar em tons mais escuros”, conta Fernando Neto Pereira, arquiteto do projeto e co-proprietário do Tokyo e do Jamaica. Aguardemos, com expectativa.
Uma app para não perder o norte
Há mais aberturas agendadas, como é o caso do Mome e do Hype, ambos na 24 de Julho, do Titanic Sur Mer, de Manuel João Vieira, que estenderá o seu horário e voltará à versão clubbing, ou da Primorosa, clube noturno vintage no bairro de Alvalade. Nos próximos dias, acredita-se que as casas que não faliram durante estes meses à míngua, voltarão a animar as noites da capital. Para não se perder o norte no meio desta aventura, a aplicação Wikinight funciona como um guia da vida noturna em Portugal. Com a promessa de reabertura dos bares e discotecas, a empresa portuguesa, fundada em 2018, investiu 100 mil euros no desenvolvimento de uma solução que une logística e segurança, unificando todo o processo de entrada, apresentação do certificado digital e pagamento numa única aplicação. Como?
Ao criar o perfil na plataforma, fica-se com acesso à informação sobre as festas que vão acontecer e pode fazer-se o registo na guest list digital e agregar o certificado de vacinação – gera-se um QR Code para garantir a entrada rápida (sem aglomerados) e sem contacto físico entre os empregados e os visitantes. “De forma a reforçar os novos procedimentos recomendados para uma diversão segura, a aplicação envia uma mensagem automática com as regras de segurança em vigor para cada estabelecimento”, lê-se no comunicado.
A app permite também realizar todos os pagamentos de forma virtual, desde a pré-reserva ao pagamento de consumos através de MB Way ou Multibanco, para evitar trocas de dinheiro e pessoas umas em cima das outras na hora do pagamento.
“Durante um ano e meio, sair à noite, ir a festas, festivais ou eventos não nos era permitido e agora que podemos voltar a hábitos antigos é de extrema importância que o façamos em segurança, de forma a garantir a continuidade do levantamento de restrições.”, acredita Francisco Coutinho, fundador da Wikinight, que conta já com 100 parceiros e 80 mil utilizadores registados.