1. Mezze
Esta é a história de uma família que teve que fugir a uma guerra para sobreviver. Da sua terra natal, a Síria, trouxe pouco mais que a roupa que tinha vestida. Por cá, estes dez refugiados encontraram segurança, enfrentaram medos e dificuldades. Com a ajuda da Associação Pão a Pão, descobriram também uma forma de se sustentarem. E queremos acreditar, alguma esperança e otimismo. São eles os verdadeiros protagonistas do restaurante Mezze, a funcionar desde setembro no Mercado de Arroios, em Lisboa, uma das aberturas mais aguardadas deste ano. Às mesas chegam cinco menus (€11 a €15), compostos por quatro pratos cada um, inspirados na cozinha do Médio Oriente, com iguarias como húmus, mujjadara ou tabbouleh. Tudo bem confecionado e servido com simpatia. E repetimos o aviso: no Mezze não se aceitam reservas e não é fácil arranjar mesa. Mas vale a pena a espera. Mercado de Arroios > R. Ângela Pinto, 22, Lisboa > T. 21 249 4788 > ter-sáb 12h-24h
2. Ajitama
Todos os sábados, pelas nove e meia da noite, há uma dúzia de afortunados que sobe até à casa de António Carvalhão, em Lisboa, para um ramen dos céus, idealizado com o seu amigo João Ferreira. A preparação desse caldo japonês, que serve de refeição, começa na véspera, quando o porco preto vai para a panela largar a gordura na água. Mas há mais águas a ganharem sabor ao longo de horas, uma da cozedura de galinha e outra de elementos marítimos, o dashi. E depois, é a saga da confeção dos ovos, que devem ser marinados durante a noite. Os dois amigos, que têm outras profissões, e que criaram este supper club sem saberem bem como, recusam-se a descurar nos pormenores. E o maior deles é gastarem as tardes de sábado a fazerem os noodles deste caldo delicioso. “Cheirem, provem, façam barulho a sorver”, aconselha João. A refeição só termina depois de uma irrepreensível bavaroise de matcha, com topping crocante de pistácio e hortelã. Antes de os convidados irem embora, circulam umas caixinhas pretas onde cada um põe a quantia justa para pagar tamanho festim nipónico. Cá para nós, é coisa para não ter preço. Se conseguir vencer a lista de espera, vai dar-nos razão. reservas: ajitamalisbon@gmail.com
3. Benamôr
Perfumada e com uma boa dose de histórias para contar, assim é a loja da Benamôr, marca de cosmética nascida há 92 anos em Lisboa. Com montra virada ao Campo das Cebolas, o protagonismo vai todo para as bisnagas, frascos e boiões. O creme de rosto que atravessou décadas só tem paralelo com o cítrico creme de mãos Alantoíne. Gordíssimo, desdobra-se agora em sabonete, manteiga para o corpo e creme de banho. A nova linha Jacarandá vai buscar o nome às árvores que na primavera cobrem Lisboa de flores. Já Rose Amélie homenageia a última rainha portuguesa, cliente da Benamôr. Também lá estão imagens da antiga fábrica Nally no Campo Grande, da perfumaria Benamôr na Rua Augusta ou do anúncio ao Bronzaline, primeiro bronzeador português. Os novos donos querem que tudo continue a ser feito como antes: os produtos na fábrica de Alenquer, as bisnagas de alumínio na Sociedade Artística, em Monção, e as caixas de papel em Braga. É caso para termos orgulho. R. dos Bacalhoeiros, 20A, Lisboa > T. 21 800 3037 > seg-sáb 10h-20h
4. Motas partilhadas
Desde que elas andam por aí, passou a ser viável chegar num instantinho a qualquer lado da cidade (e sem ruído) – Lisboa agradece, ficando mais verde. Mesmo quem nunca guiou uma scooter, ganha gosto por estes veículos elétricos que não excedem os 50 quilómetros por hora. A coisa funciona através de uma aplicação de telemóvel: há que pagar uma caução de 99 ou 500 euros e depois andar à razão de 24 ou 29 cêntimos por minuto. Antes, seleciona-se a mota mais próxima, carrega-se no botão iniciar, e o banco abre-se. É de lá que sai um dos capacetes (o outro está na bagageira) e a touca higiénica. No final, estaciona- -se numa zona permitida, pois só assim a aplicação fecha a conta. Além destas motoretas, louvam-se também as bicicletas partilhadas e até os carros que andam de mão em mão. App e Cooltra > a partir de 24 cêntimos por minuto
5. O “novo” Cais do Sodré
Ao renovado Cais do Sodré, o melhor mesmo é ir a pé ou de transportes públicos (comboio, barco, Metro ou Carris) porque tudo o que era zona de estacionamento desapareceu. Os passeios alargaram-se e o Jardim Roque Gameiro, com o seu quiosque de desenho peculiar e azulejos Arte Nova, foi arranjado e tem bancos para sentar. Ainda bem, escrevemos nós, ali em meados de março, quando se deram por terminadas as obras (duraram 16 meses) e já depois de a Câmara de Lisboa ter feito a festa para lisboeta ver. E voltamos outra vez a escrever para dizer que assim se devolveu–nos este pedaço da frente ribeirinha desmazelado pelo tempo, mas onde agora apetece estar – seja na amurada, a pouco mais de um metro do rio e com os barcos que chegam e partem por companhia, seja num dos sete bancos duplos de madeira, que permitem esticar as pernas a lembrar espreguiçadeiras e, por isso, bastante concorridos, fica a nota.
6. Musa
No dia da inauguração do bar e da fábrica de cervejas da MUSA, no início de outubro, este antigo armazém, em Marvila, foi enchendo aos poucos até ficar a abarrotar. Uma invasão dos muitos apreciadores de cervejas artesanais. No final de tarde festivo, eram oferecidas caricas que davam direito a duas bebidas. Para quem não conhecia as estrelas da casa, que conta já com 12 variedades de cervejas artesanais, foi a oportunidade para experimentar uma Red Zeppelin Ale, de corpo e sabor amargo equilibrados, e uma Mick Jagger, de cor alaranjada, mais fresca e fácil de beber. No Tap Room da MUSA, os nomes das cervejas soam a música, e não é por acaso, sabe-se que é um dos gostos partilhados pelos sócios Nuno Melo e Bruno Carrilho. E se as cervejas e a música já nos faziam sair de casa e ir até Marvila, acrescente-se que este é, segundo o jornal espanhol El País, um dos bairros de visita obrigatória. Já o sabíamos, claro, Marvila não para – e também por causa da MUSA ali nasceu o Lisbon Beer District, de que também fazem parte as fábricas de cerveja artesanal Lince e Dois Corvos. Estamos atentos, de copo na mão. R. do Açúcar, 83, Lisboa > T. 21 387 7777 > dom-qui 16h-23h, sex-sáb 16h-24h
7. Panorâmico do Monsanto
A estrada serpenteia entre arbustos de medronheiro, carvalhos e pinheiros- -mansos, mas basta um olhar atento para ver surgir, do lado direito, o imponente Panorâmico do Monsanto. Por iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa, e depois de 16 anos ao abandono, o antigo restaurante de luxo ganhou “nova” função: miradouro, com horários oficiais de abertura e de encerramento. E só podemos dizer ainda bem, porque a vista panorâmica sobre a cidade, a cerca de 200 metros de altitude, faz deste lugar observatório privilegiado de Lisboa e arredores. A pilhagem e o vandalismo destruíram o Panorâmico, sim – é uma dor de alma olhar para o pouco que resta da pintura a fresco de Luís Dourdil a enquadrar a escadaria elíptica, enquanto nos deliciamos com o bonito painel de azulejos de Manuela Madureira, que sobreviveu como por milagre – mas esta também é uma forma de lhe manter os holofotes apontados, aguardando-se um concurso de ideias que faça renascer o edifício de arquitetura modernista. Até lá, é aproveitar este refúgio no alto do parque florestal para ver a cidade, um exercício que não cansa, garantimos, antes nos faz querer voltar uma e outra vez. Estr. da Bela Vista, Lisboa > seg- dom 9h-18h, (última entrada 17h30) > grátis