Daqui a uns anos, quando Rui e Marta Susano contarem a sua estreia na praia ao pequeno Santiago, agora com sete meses, muitos serão os pormenores a revelar. Na nova Praia Fluvial de Monsaraz, no grande lago de Alqueva, não se engolem pirolitos nas ondas, nem se fazem caretas com os salpicos do mar salgado. A VISÃO Se7e pôde ver Santiago a chapinhar na água doce, balanceada pela brisa, numa manhã escaldante, uma semana após a inauguração oficial da praia, a 1 de junho. Pais babados, Rui e Marta percorreram 70 quilómetros, vindos da Vidigueira, para passarem o dia de folga. Protegem-se do calor debaixo de um dos 20 toldos gratuitos e deixam-se embalar pela banda sonora do cante alentejano e de hits portugueses que ecoam dos altifalantes. Só reclamam de uma coisa (e não são os únicos): a areia escolhida para a praia magoa os pés.
Chegados a Monsaraz, na rotunda perto da Casa Saramago, surge a primeira indicação da nova praia fluvial onde, há dez anos, já funciona o Centro Náutico. No parque de estacionamento desta praia, que já nasceu com Bandeira Azul e acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida, o caterpillar continua a revolver a terra, pois é preciso ampliar os 120 lugares para 500, dando resposta às enchentes de fim de semana, com muitos vizinhos espanhóis. Junto às mesas de piquenique, ao lado do parque infantil, fica a zona de reciclagem, as casas de banho e os chuveiros exteriores, cujas águas dos banhos são tratadas e reutilizadas para regar a relva verdadeira.
Às três da tarde, com o termómetro nos 33 graus, enquanto uns andam de gaivota e outros fazem sestas à sombra da azinheira, há quem não saia do ancoradouro flutuante com dois tanques (1,5 metros para adultos e meio metro para crianças). Filipa Galhofo, 19 anos, Gonçalo Vidigal, 23, e José Tereso, 26, aproveitaram o dia de descanso nos empregos para uma ida à praia. Tinham pensado ir à Comporta, como fazem sempre, quando um amigo lhes lembrou que a nova praia fica mais perto do Redondo. Em vez de 135 quilómetros, só fizeram 40, numa viagem menos cansativa. Trouxeram comida, mas a cervejinha fresca foram comprar ao restaurante do Centro Náutico.
Ana Luísa Jorge passou 25 anos a trabalhar na área de Recursos Humanos, até ter comprado uma casa de férias em Montejunto. As vindas quinzenais passaram a semanais e depois mudou-se, em definitivo, para o Alentejo. Há uma década, começou com o Centro Náutico e só há cinco anos abriu o restaurante com esplanada, um projeto partilhado com o marido, as duas filhas e um sobrinho. Ana Luísa tem clientes fiéis para comer polvo, mariscos e porco preto, ex-líbris da casa. Os preços não são uma pechincha, mas é preciso compreender que o supermercado mais próximo fica a 25 quilómetros. “Quem vem para o grande lago avia-se em Reguengos”, brinca. Este verão, para tratar das atividades náuticas, Ana Luísa conta com João Barradas, 25 anos, acabadinho de sair da faculdade, do curso de Gestão de Lazer e Animação Turística. Veio acompanhado da namorada, Liane Dias, 23 anos, a trabalhar na banca das baguetes, gelados, águas, imperiais e cafés. Vão ficar no Alentejo até dezembro, a ver como corre o projeto do Centro Náutico e, além de estar responsável pelas gaivotas, João também quer pôr os veraneantes a subir o Alqueva nas pranchas de paddle.
A experiência como nadador-salvador em praias marítimas no Algarve fez com que Emanuel Mendes, 31 anos, fosse escolhido para vigiar o areal com quatro azinheiras. É um dos três nadadores-salvadores que, todos os dias, das 9 às 19 horas, tomam conta dos 120 metros de frente de praia. “Aqui não há correntes, mas o fundo da água pode criar lodos”, explica Emanuel. À beira de água, Emanuel está de olho nos banhistas que não arriscam grandes braçadas. “Esta paisagem é um misto de montado, característica do campo alentejano, com praia”, descreve. A VISÃO Se7e não teve a sorte de testemunhar este cenário, embora Emanuel Mendes nos garanta que exista: “Em nenhuma outra praia se encontra um pastor e o seu rebanho, uma cegonha, um casal de águias e patos selvagens na água a 23 graus.”
Mértola, antes de entardecer
Se na véspera as suas autocaravanas não tivessem sido assaltadas em Ayamonte, em Espanha, naquela tarde quente de verão os dois casais franceses não estariam em Mértola, a aproveitar o lusco-fusco na praia fluvial da Tapada Grande, na Mina de São Domingos. Depois do azar, os quatro de 60 e poucos anos desistiram de continuar as férias por estradas espanholas, optando por descobrir o Sul do nosso país. Vindos da Bretanha, saíram de casa há cinco semanas. Este é o segundo ano que andam pela Península Ibérica. Em 2016, fizeram todo o Norte de Portugal até Lisboa. Na bagagem trazem o cão Ulisses e as motos, uma 4×4 e outra de duas rodas, para se movimentarem num raio de 20 quilómetros. No parque de estacionamento estão mais sete autocaravanas e os seus ocupantes espalham-se pela zona de merendas e por algumas das
40 palhotas, nos 100 metros de frente de praia com Bandeira Azul.
No areal, Francisco Garcia, Ricardo Inácio e Rúben Ramalho arrumam a tralha. Os jovens passaram a tarde no barco de borracha, a navegar nas águas limpas e calmas da sub-bacia do Chança, um afluente do Guadiana. “Só falta o sabor da água salgada”, admitem os amigos na casa dos 20 anos, que vieram de Santa Iria, a 30 quilómetros dali.
Na Azenha do Guadiana, mais perto do centro de Mértola, onde estão desativados três moinhos de água e duas azenhas, também param autocaravanas. Este é um cenário mais selvagem e deserto, ideal para acordar, esticar os braços e descer até ao rio para um banho matinal, já com o sol a escaldar a pele, e com bandos de patos por companhia. Correntes fortes, efeitos das marés, variação súbita do caudal e rochas são as advertências que se devem ter em conta neste lugar selvagem, sem vigilância, onde o silêncio só é interrompido pelo correr da água fria.
Nascentes algarvias
Por enquanto, a praia fluvial do Pego Fundo, em Alcoutim, é a única do Algarve, embora a autarquia de Castro Marim tenha anunciado, em maio passado, a construção da nova praia fluvial na barragem de Odeleite. Um investimento de 320 mil euros para uma área com 6 100 metros quadrados, com zonas verdes, apoios de praia e uma zona de estar, devendo estar a funcionar na próxima época balnear no Sotavento algarvio.
Em Alcoutim, todos os anos é reposta a areia nas margens da ribeira de Cadavais, que vai desaguar no rio Guadiana, a 500 metros. Ladeada pelo canavial, esta praia que é mais pequena do que a da Mina de São Domingos, em Mértola, mas de areia mais branca, também tem nadador–salvador – por enquanto, diga-se, com os dias úteis bastante descansados. Só aos fins de semana ali se deslocam mais pessoas, incluindo espanhóis e muitos algarvios que fogem da confusão do Litoral. Os avisos para não se mergulhar estão desenhados num conjunto de quatro azulejos da Cerâmica de Alcoutim, num estilo kitsch, absolutamente delicioso.
Outra fuga possível para quem quer escapar às multidões da costa chama-se Fonte-Grande e fica em Alte. Aqui nasceu o poeta Cândido Guerreiro, um orgulho na Fonte-Grande e para quem é da terra. Precisamente no sítio onde compôs os seus primeiros versos está uma inscrição em azulejos com uma ode ao lugar. Antes fica a Fonte-Pequena, agora encerrada para obras, mas nas Fontes, como dizem por lá, não há areia, só corre água cristalina. Para retirar as algas e as folhas que caem das árvores em redor, as comportas são abertas para as máquinas de compressão fazerem a limpeza, onde antigamente as pessoas iam buscar água para beber. Em pleno barrocal algarvio, podemos refrescar-nos nesta nascente que vem do Guadiana, passa por Alte e segue para Paderne. Com dois snack-bares abertos, os veraneantes contam também com casas de banho, zona para churrasco, 20 mesas de piquenique, anfiteatro e relva para entender a toalha – sem, com isto, chegar à toalha do vizinho, o que no Algarve pode ser um pequeno-grande luxo.
Onde comer, onde dormir, o que fazer
ALTE
Alte Hotel > Estr. de Santa Margarida, Montinho, Alte > T. 289 478 523 > quarto duplo €44 a €100
Cantinho d’Alte > Av. 25 de Abril, 11B, Alte > T. 289 478 272 > qui-ter 12h-15h, 19h-22h
O Folclore > Av. 25 de Abril, 1A, Alte > T. 289 472 536 > seg-sáb 12h-15h, 19h-22h
Papoila Alte > artesanato,
produtos em
cortiça, roupas, sabonetes
e cremes à base de azeite.
R. da Fonte, 9, Alte
> T. 91 891 9738 > seg-sáb 11h-19h
ALCOUTIM
Hotel d’Alcoutim > Av. de Espanha > T. 281 546 324 > quarto duplo €45 a €70
Cantarinha do Guadiana > pratos que representam o melhor da cozinha regional do Alentejo e do Algarve > Laranjeiras > T. 281 547 196 > qui-ter 12h30-15h, 19h30-21h
O Soeiro > comida regional e grelhados no carvão > R. do Município, 4A > T. 281 546 241 > seg- -sex 12h-15h
Limite Zero > Portugal e Espanha unidos pelo slide de 720 metros que liga Alcoutim a Sanlúcar de Guadiana > limitezero.com > T. 0034 670 31 39 33
MÉRTOLA
Quinta do Vau > casa de campo com piscina e vista para o rio > Além Rio > T. 96 564 5540 > quarto duplo a partir €40 > casa T1 a partir €70
Alentejo Star Hotel > quatro estrelas instalado no antigo “palácio” da administração da Mina de S. Domingos > R. Dr. Vargas, Mina de S. Domingos > T. 286 640 030, 283 990 074 > quarto duplo €49 a €110
Snack-bar da praia fluvial > sandes, hambúrgueres e bons caracóis > Tapada Grande > seg-dom 10h-22h
O Brasileiro > estufadinho de javali, açorda de perdiz ou sopa de cação são especialidades da casa. Deliciosas > Monte S. Luís > T. 286 612 660, 96 604 8545 > seg-dom 12h-15h, 19h-22h
Mértola Com Gosto – Loja da Terra > enchidos de porco preto, queijo de ovelha, pão de forno a lenha, mel e vinhos > Lg. Vasco da Gama > T. 96 230 7388, 96 947 2209 > seg-sáb 9h-13h, 14h-19h, dom 9h-13h
Loja Além Cante > chás biológicos, mel, vinagre, vinhos, compotas Myrtilis Gourmet e queijos de Serpa > Lg. Vasco da Gama > T. 96 016 0744, 91 891 8777 > seg-dom 8h-19h30
REGUENGOS DE MONSARAZ
Casa Saramago > turismo rural a funcionar numa casa centenária, com dez quartos repletos de história > R. de Reguengos, 9A > T. 266 557 494/135, 96 555 9070 > quarto duplo €65
São Lourenço do Barrocal > propriedade agrícola à beira de Monsaraz transformada em hotel de cinco estrelas, com assinatura de Eduardo Souto Moura > EN 514 > T. 266 247 140 > a partir €165
Restaurante do Centro Náutico > na esplanada ou na sala interior, prove uns jaquinzinhos fritos com melão, presunto e gaspacho > Praia Fluvial de Monsaraz > T. 96 682 3888 > Passeio de gaivota ou canoa (1h) com refeição €20 > Passeio de barco ou prancha de paddle (1h) com refeição €25
Sem-Fim > num antigo lagar de azeite, come-se bacalhau alhado, borrego, migas de tomate, sopas alentejanas, arroz-doce > R. das Flores, 6A, Telheiro > T. 96 265 3711 > mar-dez, sex- -dom 11h-2h
Casa Tial > produtos regionais e artesanais, pastelaria, casa de chá e geladaria > R. de Santiago, 10 > T. 266 557 138, 96 586 6222/56 > qua-seg 10h-20h
Nautimonsaraz > passeios de barco, observação de flora, de fauna e de aves, piqueniques.
Cais Ancoradouro
de Monsaraz >
T. 96 265 0708
Alqueva Cruzeiros > R. Direita, 15 > T. 96 154 4559