De longe, quando espreitamos a nave central, as mudanças não saltam logo à vista. Os elétricos estão alinhados como estavam antes de o museu fechar, em 2013, devido à urgência na recuperação da cobertura do edifício, que agora comemora 100 anos. Aqui funcionou durante décadas a Central Termoelétrica de Massarelos, construída para produzir energia que alimentava os elétricos (e não só). Mas as alterações são grandes. A começar, na entrada, pela receção e loja renovadas, com direito a bengaleiro e casas de banho modernizadas. Reaberto a 28 de novembro, o Museu do Carro Elétrico terá, talvez, tantas histórias para contar quantos os anos do edifício – como a do elétrico Fumista (o 315) que assim se chamava por permitir a abertura da janela para que os passageiros pudessem fumar.
Mas sigamos viagem pelo “novo” museu. Manuela Ribeiro, diretora, e Carla Dias, curadora da exposição, explicam-nos que a tal nave central que avistámos da entrada alberga 17 elétricos que contam a história da evolução deste transporte. Depois das obras na cobertura e do reforço estrutural do edifício foi necessário repensar a exposição anterior. Agora, em Entre Linhas: a reinvenção de um lugar viajamos desde o tempo em que o transporte público era feito com tração animal (o americano, de 1872) ao primeiro elétrico sobre carris da Península Ibérica, de 1895 (o 22). A segunda fase, a partir da década de 30, descreve o crescimento do elétrico que, nesta época, se alargou aos limites do concelho do Porto (S. Pedro da Cova e Ermesinde num extremo, Matosinhos no outro). “Nesta época era o carro do povo. Trazia os trabalhadores das áreas limítrofes para trabalharem no centro da cidade, muito longe dos tempos em que transportava apenas a alta burguesia”, descreve Carla Dias. Entre os 17 elétricos – que serão renovados entre os 26 que constituem a coleção do museu – constam a Zorra (fazia o transporte de carvão) e os de trabalho que traziam, por exemplo, as canastras de peixe da lota.
A Sala das Máquinas, onde antes se distribuía a energia para as diferentes subestações, está agora aberta ao público. “Era o coração do edifício. Um painel importantíssimo para o controlo de energia”, lembram as responsáveis. Recorde-se que, na década de 1920, a capacidade de produção energética da Central permitia alimentar parte da cidade do Porto, a iluminação pública da zona ribeirinha e a ponte Luís I. As máquinas mais antigas em exposição datam dos anos 30 e funcionaram durante a Segunda Guerra Mundial. Quando se visita esta sala do edifício, projetado em 1915 pelo engenheiro Couto dos Santos, é impossível não reparar na maqueta feita por Joaquim Leorne, um antigo trabalhador eletricista, já falecido, que, com enorme perícia, reproduziu todo o funcionamento da antiga central. A renovação do museu custou um milhão de euros (70% da verba comparticipada pelo QREN) e pretende-se abrir, no futuro, uma cafetaria e uma sala para festas de aniversário.
Museu do Carro Elétrico > Alameda Basílio Teles, 51, Porto > T. 22 615 8185 > seg 14h-18h, ter-dom 10h-18h > €8 (adultos), €4 (>6 anos)