1. Os 5 Homens que Mudaram Portugal para Sempre
Isabel Nery
Onde é que estava no 25 de Abril? A pergunta clássica podia ter servido de ponto de partida para este livro em que se traça o perfil cruzado de cinco personalidades que marcaram a transição para a democracia: Álvaro Cunhal, António Ramalho Eanes, Diogo Freitas do Amaral, Francisco Sá Carneiro e Mário Soares. Apesar de ser a revolução o ponto de partida, a narrativa segue uma ordem cronológica, tentando desde logo estabelecer pontos de contacto, de afastamento e de rutura entre os líderes dos quatro maiores partidos portugueses e aquele que viria a ser o primeiro Presidente da República eleito depois da Revolução dos Cravos. “Quatro deles – Cunhal, Soares, Sá Carneiro e Freitas – crescem com mais a uni-los do que a separá-los (…), Eanes é quase sempre a exceção.” Com o olhar centrado, sobretudo, no período entre a madrugada de 25 de Abril e o 25 de Novembro, e contando também o que se passa com figuras próximas das personagens que biografa, Isabel Nery, jornalista e autora de vários livros (o mais recente dos quais uma biografia de Sophia de Mello Breyner), reconstitui o regresso de Soares e Cunhal a Portugal, a história do I Governo Provisório (o único de que fizeram parte Cunhal, Soares e Sá Carneiro e cujo programa foi escrito por Freitas do Amaral, que só viria a fundar o CDS depois), o cerco à Assembleia Constituinte e os acontecimentos do 25 de Novembro, numa narrativa ritmada e bem estruturada. C.L. Dom Quixote, 311 págs., €21,90
2. Elizabeth Finch
Julian Barnes
Julian Barnes tem sido classificado como um dos escritores britânicos mais interessantes da atualidade – e merece bem a qualificação, diga-se de passagem. Além do mais, também merece que se lhe elogie o ritmo, pois, nos últimos anos, não tem parado de escrever bons livros: alguns dos seus mais recentes títulos (como O Papagaio de Flaubert, O Sentido do Fim e A Única História) têm sido premiadíssimos. Acabado de lançar em português, numa tradução de Salvato Teles de Menezes, este Elizabeth Finch – a protagonista é uma professora de Cultura e Civilização, cujo legado é estudado por um antigo aluno-narrador – propõe-se ser um elogio da História, um tributo à filosofia e ao pensamento livre. Oportuno, no mínimo. Quetzal Editores, 216 págs., €17,70
3. Duas Noites em Lisboa
Chris Pavone
Tudo neste thriller parece pensado para que olhemos para ele como um irresistível page turner (aqueles livros que, depois de começar a ler, não se conseguem largar). Na capa e na contracapa, dois pesos-pesados do género (Stephen King e John Grisham) alertam precisamente para essa característica da prosa do norte-americano Chris Pavone. O arranque da narrativa é um clássico para gerar suspense: Ariel acorda, em Lisboa, e descobre que o seu marido despareceu sem deixar rasto… As ondas de choque deste mistério chegarão à Casa Branca, em Washington. Lua de Papel, 496 págs., €15,90
4. Como Poeira ao Vento
Leonardo Padura
Um regresso ao romance de Leonardo Padura, desta vez sem a presença da personagem que celebrizou o escritor cubano, o detetive Mario Conde. Mas o retrato da sociedade cubana mantém-se, com o conhecimento de quem vive na ilha e sabe bem a realidade dos imigrados e as histórias de quem voltou. A trama inicia-se, justamente, em Miami, onde Adela vive com o seu namorado. Levam um dia a dia normal, até que uma fotografia revelará um passado dos seus familiares muito diferente do que conheciam. Nesse cruzar de experiências geracionais, desenha-se uma história de Cuba com todas as suas esperanças e conquistas, desilusões e sonhos adiados. Porto Editora, 632 págs., €22
5. Como é que a Esfinge Perdeu o Nariz?
Inês Torres
Uma pergunta de algibeira, aparentemente “infantil” e decididamente irreverente foi o título escolhido por uma jovem mas credenciada egiptóloga para um livro, afinal, muito sério, que fornece informação abundante e pormenorizada acerca da antiga civilização do país dos faraós. A obra é estruturada sob a forma de respostas a meia centena de perguntas formuladas. Licenciada em Arqueologia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, investigadora do CHAM e mestre em Egiptologia pela Universidade de Oxford, Inês Torres lecionou Egípcio Clássico na Universidade de Harvard e trabalhou em diversos museus da Europa e dos EUA, nomeadamente o Museu Egípcio de Berlim e o Museu de Belas Artes de Boston. L.A.M. Planeta, 336 págs., €16,90
6. Nazis que Triunfaram
Éric Branca
O confronto de um país com o seu passado nunca acaba. Há sempre ensinamentos que podemos extrair. Alguns são edificantes, abrem caminhos para o futuro; outros mostram-nos a complexidade dos processos históricos. Depois da Segunda Guerra Mundial, vários julgamentos levaram a tribunal altos quadros do regime nazi, tentando responsabilizá-los pelas suas ações. Mas muitos outros conseguiram escapar por entre a confusão geral que então se instalou. Historiador e jornalista, Éric Branca reconstitui o percurso de 12 “cúmplices de Hitler” que “triunfaram” na Alemanha democrática, nos EUA e na União Soviética, alguns com a cumplicidade dos respetivos governos. De currículos truncados a conhecimentos ultraespecializados, de tudo encontramos nestas vidas que abrem feridas do passado para tentar identificar as causas da impunidade. L.R.D. Casa das Letras, 384 págs., €18,90
7. A Outra Veneza
Predrag Matvejevitch
Predrag Matvejevitch, autor do grande Breviário Mediterrânico (que também está disponível em português, numa tradução de Pedro Tamen), é um daqueles escritores como que exilados entre a Europa Ocidental e a Europa do Leste. Nascido na Bósnia-Herzegovina, filho de pai russo e mãe croata, morreu em 2017, deixando um assinalável legado ensaístico em livros que conciliam uma aparente leveza com uma profunda erudição. Neste A Outra Veneza, olha para a cidade italiana perseguindo mapas reais e imaginários, contemporâneos e antigos, e mostrando como ali se cruzam todas as influências da civilização europeia. Quetzal Editores, 152 págs., €14,40