Não se esperam surpresas de um novo disco de Neil Young que vem, também, com a assinatura Crazy Horse, a banda com que, desde 1969, tem gravado e atuado intermitentemente. Da mesma maneira que entramos num filme de Clint Eastwood sabendo que terreno vamos pisar, carregamos no “play” em mais um disco de Neil Young com essa sensação de encontro previsível e prazenteiro. Eastwood é 15 anos mais velho do que Young (festejou o 76º aniversário em novembro) e dado a posições mais conservadoras, enquanto o músico canadiano se tem empenhado numa agenda progressista, especificamente nas causas ambientais, mas ambos representam bem o papel de velhas e carismáticas figuras que garantem um certo imaginário americano, fiável, reconhecível, em tempos conturbados.
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Na quarta faixa do novo disco, Neil Young dedica-se a uma pequena e despretensiosa canção autobiográfica: Canerican [mistura de “canadiano” e “americano”] onde sublinha a sua visão da América como terra de “liberdade”, e a sua própria identidade como sendo “de todas as cores”. Há nestas breves canções uma certa ingenuidade serena e genuína que só fica bem a um velho trovador como Neil Young. E o rock clássico, sempre eficaz e sem falhas, dos Crazy Horse combina bem com essa atitude.
Neil Young não tem medo de lugares-comuns, de começar uma canção (Tumblin’ Thru the Years) cantando “Well, I was walking down the road one step at a time heading home…” É impossível saber se a última faixa deste Barn será uma despedida dos álbuns de Neil Young – nada o faz prever num artista que tem estado muito ativo nos últimos anos e até anunciou para breve a estreia literária com um romance de ficção científica: Canary –, mas a repetição final do verso-lugar-comum “Don’t forget love…” cumpriria bem esse papel.
A gravação do álbum Barn deu origem a um documentário. Veja o trailer