Depois de quase dois anos de confinamentos e restrições, o título do novo disco de Joana Espadinha não poderia soar mais direto, funcionando quase como mantra de um futuro pós-pandemia. A ironia é que, como recordou a autora à VISÃO, “cerca de metade” das canções presentes em Ninguém nos Vai Tirar o Sol foram escritas antes da pandemia. Joana foi, aliás, apanhada entre vários sobressaltos, pois grande parte do trabalho de composição e gravação do disco coincidiu não só com o primeiro confinamento mas também com a sua gravidez. “Nem sei o que influenciou mais, porque vivi as duas coisas ao mesmo tempo e este disco acabou por funcionar como uma terapia que me ajudou a lidar com tudo de uma forma quase poética”, confessa.
Algumas canções até ganharam novos significados, especialmente as mais antigas, como aquela em que se ouve “fui para casa ver o sol num televisor”, uma frase “escrita antes do confinamento que entretanto ganhou todo um novo sentido”.
A maternidade é um dos temas presentes (em canções como A História do Pé de Feijão ou Ninguém nos Vai Tirar o Sol) naquele que é o trabalho mais pessoal da cantautora. Tal não significa, porém, que a sua música tenha perdido aquela universalidade que a tornou um dos nomes mais fortes da pop nacional, bem pelo contrário. “Tudo é mentira e tudo é verdade”, responde, citando o ídolo Chico Buarque, quando questionada sobre supostas letras autobiográficas.
Afinal, o maior elogio que podem fazer a qualquer autor musical é dizerem-lhe que determinada canção parece ter sido escrita para quem a ouve. Basta escutar temas como Dar Resposta, Queda Prá Desgraça, Astronauta ou o já hit Mau Feitio para perceber que as canções de Joana Espadinha depressa se tornam de quem as ouve. Como se nos cantasse ao ouvido as suas histórias enquanto nos põe a dançar.
Ouça aqui o tema Mau Feitio, de Joana Espadinha